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Brasil de Carne e Osso

~ Debate sobre direitos civis, igualdade racial, diversidade e outros assuntos urgentes do Brasil real.

Brasil de Carne e Osso

Arquivos da Tag: questão racial

Desigualdade, a marca do Brasil

Destacado

Posted by Helio Santos in Copa, cultura, Equidade Racial, esporte, Futebol, movimentos sociais, Mulheres Negras, Questão Racial, racismo, Uncategorized

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Brasil, congresso, desigualdade racial, evento, negros brasileiros, Política, questão racial, racismo

Nada demarca de forma mais devastadora o Brasil. Ela está em nosso DNA. Muitos falam dela, poucos a decifram. A sociedade brasileira já se acostumou com ela, mas nada chama mais a atenção das pessoas de fora que nos visitam.

O mais adequado seria falar em desigualdades – no plural -; identificando como cada tipo incide sobre a cidadania das pessoas e, muitas vezes, de maneira acumulativa onde múltiplas facetas oneram um único indivíduo.

Antes que algum analfabeto político, praga maior do momento que vivemos, diga que é mi-mi-mi falar sobre o que faz o Brasil ser o esgoto social a céu aberto que é, vale a pena observar como o mundo nos vê. Ou seja: fora do Fla – Flu que se tornou o nosso infeliz debate político.

Por ocasião da Copa que se findou, um âncora da rede CBC do Canadá suscitou uma questão ao “país do futebol”: Foram duas perguntas: “Por décadas, a cada quatro anos, o Brasil envia um esquadrão talentoso à Copa, que reflete sua população racialmente diversificada, mas os torcedores nas arquibancadas jamais o são. Por que isso nunca muda? Existe mudança no horizonte?”

International Friendly - Austria vs Brazil

Seleção Brasileira Rússia 2018

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Torcida Brasileira Rússia 2018

A segunda pergunta deveria ser o foco dos debates num ano eleitoral, pois se refere à maioria da população (55%). Ocorre que somos o país dos sorteios e loterias, mas no campo da cidadania não existem brindes: ou se conquista ou não se tem. Aqui, o eleitor negro (e empobrecido) é o único do mundo que elege os seus inimigos – sem exagero, é o que ocorre.

Câmara dos deputados

Câmara dos deputados

A desigualdade aqui possui 2 vetores básicos: tem cor em decorrência do processo histórico de 354 anos de escravismo, o que estigmatiza a maioria e tem sexo em virtude da feminilização da pobreza. Até o presente momento permanece inédita uma estratégia capaz de sustentar um movimento que faça o gigante Brasil caminhar com sustentabilidade sociorracial – precisamente porque isso significaria correr na contramão do que o País sempre foi e pretende continuar a ser. Uma sociedade que se autoatribuiu limites de forma a deixar amplas parcelas de seus cidadãos e cidadãs de fora. Não se trata de uma desigualdade fortuita, pois foi construída com zelo ibérico.

Claro; há quem veja este diagnóstico como pesado, racista às avessas, e que não leva em conta o mérito etc, etc. O pior cego aqui não é o que não quer ver, mas o que pensa que vê. Mesmo assim não ouso entender essa miopia como de boa-fé.

O agravante aqui são as não-soluções trazidas. Elas veem com as protelações que lembram as vezes em que se adiava a Abolição, até nos tornarmos os últimos a dar fim ao escravismo colonial. Ou seja: o racismo institucional tem um componente inercial que realimenta e fortalece as desigualdades consolidando o que na falta de outro nome denomino Dialética da Exclusão Brasileira. Não há à mão exemplo mais didático do que a destruição dos Direitos Sociais conquistados na CF de 1988. A famigerada Emenda Constitucional 95 não “congela” os gastos como se falou, mas estabelece um teto de gastos do Produto Interno Bruto (PIB) que vai declinando ao longo do tempo. Trata de asfixiar um paciente que já padecia de falta de ar. Todas as análises já evidenciam como esse desastre impactará indígenas e negros.

Ora, nem na Copa de 2014, que foi no Brasil, havia negros nas arquibancadas com ingressos com o preço beirando a um salário mínimo, como observou a CBC canadense. O horizonte indagado pelo âncora será tão menos sombrio a depender da movimentação que formos capazes de engendrar em 2018 e 2019.

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DE QUEM SE ROUBA MESMO NO BRASIL?

21 sexta-feira abr 2017

Posted by Helio Santos in aristocracia, Corrupção, Cota de 100% para Brancos, Equidade Racial, Questão Racial, racismo

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afrobrasileiros, Brasil, brazil, cidadania negra, colarinho branco, corrupção, democratização do brasil, democratizar, negros brasileiros, netflix, questão racial

Ainda menino, já ouvia meus pais, parentes e vizinhos reclamarem da “roubalheira” do mundo da política. Falava-se abertamente, como ainda se diz hoje, e lá se vai mais de meio século. Na infância eu já matutava comigo: de quem é que se rouba.

Hoje, posso bem compreender porque se rouba há tanto tempo sem parar. Uma ação continuada, perene, inesgotável, que se reinventa ao longo do tempo, um monstro que se realimenta pela impunidade. Tanto roubo, por tanto tempo, nos induz a um raciocínio elementar: as vítimas têm baixa capacidade de se defender.

Vamos mostrar aqui no nosso Blog que a citada “roubalheira nacional” não se atém apenas ao mundo da política. Tem-se articulações que atuam de forma a estabelecer sólidos consórcios entre a política, o mundo empresarial, a justiça e a mídia. Bastaria um desses elos se desprender para quebrar uma estrutura que deve ser responsabilizada pelo fato do nosso País ser um dos mais desiguais do mundo, a despeito de ser muito rico.

A impunidade é o combustível que toca essa máquina geradora de subcidadania. Explicando: impunidade para homens brancos bem-nascidos ou bem postos na sociedade. Não deixa de ser verdade que a impunidade, nos últimos tempos, vem sendo quebrada em parte, mas se fôssemos prender todos os chamados criminosos do colarinho branco os encarcerados, cerca de 700 mil, teriam que abrir espaços, pois faltariam cadeias.

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Presos rebelados na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte

Algumas personas têm sido presas e após algum tempo, mediante delação premiada, com “direito” à tornozeleira, são liberadas para ficarem em suas confortáveis casas – algumas são verdadeiros clubes – bebendo vinho e vendo Netflix.

Fala-se em roubos e em ladrões, mas quase nunca se fala sobre quem, afinal, é roubado! É preciso demonstrar como o mundo dos negócios e da política se retroalimentam de forma a lesar profundamente grande parte da população ocasionando a subcidadania crônica que maltrata o Brasil profundo, de carne e osso e como a mídia acaba sendo o cão de guarda dessa sinecura secular.

A princípio, rouba-se do Tesouro Público (Federal, Estadual ou Municipal). O Tesouro Nacional sempre foi um cofre aberto para diversos aproveitadores da iniciativa privada em conluio com agentes públicos. Há muito tempo a gestão desse campo tem sido entregue a banqueiros e empresários travestidos de secretários e ministros que mantêm escancarado as burras públicas; espécie de raposas zelando pelo galinheiro. A drenagem de dinheiro se dá pela sonegação pura e simples, pelas concorrências fraudadas e superfaturadas, pelos financiamentos a juros generosos, pelas isenções fiscais seletivas, pela gestão kamikaze das empresas públicas e pelas concessões altamente lucrativas; tudo guarnecido por uma mídia dependente de publicidade (privada e governamental) e de concessões do setor público.

Quando se deixa de recolher impostos pagos pelos cidadãos-consumidores, ou quando uma obra que vale 200 milhões recebe o dobro desse valor, ainda quando concorrências são viciadas, remédios são superfaturados, empréstimos públicos são concedidos com juros generosos a empresas sem nenhum compromisso público ou ainda quando políticos invadem empresas e bancos públicos nomeando “gestores” a soldo de seus interesses, acaba se tendo farta drenagem de recursos (dinheiro público) que vão enriquecer famílias e grupos. Tal enriquecimento que ocorreria em função do próprio sistema capitalista, nesse caso é maximizado de forma a potencializar fortunas da fauna que rouba o Brasilzão desde sempre. Ora esses desvios se dão em detrimento de quem? Quem perde em sua vida por isso, afinal?

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Teleférico da Favela do Alemão

Afirmar que o roubo é contra a população brasileira; a rigor não seria errôneo. Porém, o rol de maldades que inferniza a vida dos brasileiros incide de maneira seletiva e não homogênea como algumas narrativas simulam. As creches e escolas infantis não construídas, tão importantes para a formação de uma pessoa, a escola fundamental em período integral, os postos médicos e hospitais de qualidade, as políticas preventivas de saúde, a ausência de saneamento básico – suma vergonha de um país rico -, a ausência de consistentes políticas habitacionais e agrícolas de cunho popular e, finalizando, a absurda qualidade do transporte coletivo são fatores que oneram diretamente aos mais pobres e necessitados.

Como se sabe a pobreza no Brasil tem cor e procedência – todos os estudos internos e externos confirmam isso: IPEA, PNUD, IBGE, Banco Mundial etc. Ainda assim, todo o clamor do dito campo progressista no presente momento de regressão de direitos, quase nunca traz à tona esse singular aspecto que é notado por todo estudioso estrangeiro que se detém a decifrar o País do futebol e das favelas. O que alguns analistas denominam “maioria desorganizada” são os descendentes de escravizados e indígenas. Quando se clama contra o “desmonte do país”, não se identifica os perdedores principais dessa tragédia. As escolas particulares, os planos de saúde, os automóveis e os condomínios onde balas não se perdem, são bens e espaços onde a esmagadora maioria negra não chega, evidenciando que o desmonte é engendrado contra essa massa preferencialmente. O Brasil tem sido reiteradamente saqueado de forma tão impune porque os espoliados erm sua grande maioria são negros (pretos + pardos). Assim como são aqueles que morrem por homicidios e são ainda a esmagadora maioria dos encarcerados no indecente sistema prisional brasileiro.

Fui durante muito tempo um ativista que buscou dialogar com a sociedade – sistema político, judiciário, mídia, mundo empresarial e intelectual -, mas reconheço que chegou um momento de operar noutro patamar. A rigor, na maioria das vezes, estivemos em nossas lutas por nossa própria conta e risco; com o silêncio de parte importante da intelectualidade e partidos, mas sempre com a mídia em oposição feroz.

O desmonte dos direitos sociais feito em escala alucinante: precarização do trabalho, reforma trabalhista e previdenciária, congelamento dos investimentos em Educação e Saúde, são petardos armados contra a já combalida (sub) cidadania negra.

3 Poderes

Três Poderes – Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal

O tamanho do desastre requer considerar a possibilidade de desobediência civil face à completa desmoralização das autoridades que ao longo do tempo usurparam e/ou permitiram que os recursos que potencializariam a cidadania não cumprissem seu sagrado papel. Essas forças em uníssono – não necessariamente acordadas entre si, em covarde, mas não inocente silêncio – produziram um País rico habitado por massas de empobrecidos. A desigualdade é o galardão dessa gente. Eles a produziram com zelo ibérico contra negros e índios. A absoluta ilegitimidade dos entes políticos que presentemente desenvolvem uma agenda regressiva no País (contra os interessess das maioriais) se configura pelo elementar fato de que nenhum deles foi eleito propondo tais medidas. Trata-se de traição àqueles que os empoderaram com o mandato pelo voto popular. Nada pode ser mais nefasto do que isto para uma democracia: o representante operar contra o seu representado.

A população negra representa 53% da população brasileira. Esse público ainda não foi às ruas, mas precisa explicitar que o golpe parlamentar personifica não apenas golpistas, mas, sobretudo, racistas. Temos de construir nossas agendas específicas já. 2018 ainda está longe, mas negros não domesticados por partidos precisam se posicionar radicalizando na democracia que nunca existiu em Pindorama. Nossa agenda tem de influenciar as políticas macroeconômicas. A juventude e as mulheres têm de estar no centro desse embate em virtude de serem os sub-grupos mais vulneráveis em nosso segmento.

Como sempre intui: somos os derradeiros subversivos do Brasil. Temos de construir uma nova ordem onde a igualdade de oportunidades seja a essência do regime a ser conquistado. Mais uma vez seremos parte da solução, jamais o problema. Vamos democratizar o Brasil.

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Vamos democratizar o país?

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Branco No Brasil: Desde Sempre Levando Vantagens

23 segunda-feira jan 2017

Posted by Helio Santos in Negros na TV Brasileira, Questão Racial

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Branco no Brasil, Marcelo Adnet, Negro na TV, questão racial, Rede Globo, Tá no ar

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Ser branco no Brasil, afinal, propicia vantagens – ou não – ao titular da branquitude? Bom lembrar: a rigor nem precisa ser branco segundo os padrões europeus, basta ser “socialmente branco”, como se dá na terra-brasilis.

Filme que rodou na Web, “bombou” nas redes ao trazer de maneira humorística a branquitude brasileira, mostrando os brancos se “dando bem”.

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Em 2002, ao ser entrevistado no Programa Roda-Viva da TV Cultura, por afirmar algo parecido, fui bombardeado por todos: entrevistadores e telespectadores. No final do programa me foram entregues, em papel, centenas de perguntas desaforadas. Quase 15 anos depois muita coisa mudou: o STF por unanimidade se manifestou a favor das cotas raciais. Políticas foram implementadas no sentido de reduzir as vantagens que por décadas o Movimento Negro denunciou. O citado programa pode ser visto neste link: https://www.facebook.com/brasildecarneeosso/videos/1050963684962024/

Assim, em tese, o país já sabe que os brancos levam vantagens – sim. Essa defasagem histórica se instala aqui no momento que os portugueses começam a explorar essas plagas: 1534. O vídeo erra quando diz que os brancos levam vantagens “Há mais de 500 anos”, pois são precisamente 482 anos. Muito tempo.

O esquete que será exibido pela Globo no dia 24 já é um mega sucesso com quase 3 milhões de visualizações. Ao ler os comentários percebo que após 15 anos, apesar das mudanças ocorridas, permanece uma desinformação   alucinante sobre a questão das desigualdades raciais. Causa-me comoção ao constatar tanta estupidez política por parte de brancos e também de negros a respeito.

Não há como negar a “qualidade técnica” daquela produção: personagens, interpretação e enredo. É precisa a utilização do segurança (bem preto) travando a entrada de uma mulher negra. Há casos de assassinatos. Em 2006 numa agência bancária do Rio um segurança negro atirou e matou um cliente igualmente negro. O serviço de segurança – mal remunerado e de baixo status profissional – é uma atividade exercida majoritariamente por homens negros.

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Por outro lado, é marcante a apresentação da mulher branca afirmando as “vantagens” das quais ela o tempo todo se faz usuária. Marcante também o fato de o homem branco de meia idade reafirmar ser sempre o mais bem remunerado. Vê-se, ainda, mulheres negras em funções subalternizadas. De fato, a hierarquização exibida no vídeo é a mesma que os estudos revelam: primeiro o homem branco; depois a mulher branca; em seguida, o homem negro e, finalmente, a mulher negra.

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Há um volume considerável de estudos que mostram o custo que se paga por ser negro no Brasil. Desde meados dos anos 1970, Nelson do Valle Silva e Carlos Hasenbalg demonstravam, quantitativamente, as diferenças resultantes das vantagens de brancos sobre negros.

A questão do vídeo desenvolvido pelo grupo “Tá no Ar”, liderado por Marcelo Adnet, é que sempre restará uma dúvida grave. Por se tratar de um grupo teatral que trabalha bem com a sátira, caberia as perguntas:

1.Trata-se de humor que escracha a posição do ativismo negro que utiliza esse argumento para propor políticas públicas?

2.Ou o “Tá no Ar” faz uma crítica denunciando as desigualdades raciais resultantes do racismo, contrariando a linha do humor que sempre se fez na Globo?

Pela foto, o grupo de humor “Tá no Ar” com seu diretor, que opera num país de maioria negra, “Tá na Dinamarca”.

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A repercussão do filme me confirmou uma ideia que tenho defendido há muito tempo: a batalha contra o racismo precisa utilizar mais da tecnologia da comunicação – TV, WEB, cinema – para ter maior eficácia. Não adianta só reafirmarmo-nos como maioria, precisamos também de operarmos como tal. O empoderamento, tão falado e repetido, além de estar em nossas consciências, precisa repercutir de forma que produza cidadania. Os caminhos são vários: participação política, direitos múltiplos, renda – equidade, enfim.

O desafio da luta antirracista, que busca empoderamento cidadão, passa pela comunicação pois, além do racismo institucional enraizado na sociedade – os comentários feitos sobre o filme confirmam esse quadro -, o Brasil é um imenso continente com 5570 cidades. Muito precisa ser feito, dito e demonstrado de forma didática, com ou sem humor.

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Não Vote No Inimigo

17 sábado set 2016

Posted by Helio Santos in eleições 2016, Questão Racial

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eleições 2016, questão racial

Mais de 144 milhões de eleitores deverão ir às urnas em 2 de outubro próximo para eleger 5569 prefeitos e cerca de 57 mil vereadores. Mais da metade desses eleitores é formada por negros. (Pretos e pardos, segundo o IBGE). Todos vivemos em cidades e o funcionamento delas têm a ver diretamente com a nossa cidadania.

O ato de votar é o único que iguala a todos: branco e negro; homem e mulher; rico e pobre. O voto de um homem milionário vale tanto quanto ao da mulher que limpa as privadas de seu escritório. É o único momento que todos valem a mesma coisa.

Se tomarmos em conta os indicadores, como rendimento médio domiciliar, acesso à Educação de qualidade, taxa de desemprego, condições de habitação, qualidade dos serviços de saúde e transporte, vê-se a precariedade que atinge de forma aguda a população da periferia, em sua maioria negra. Ora, a precariedade da população negra decorre da ausência de políticas públicas adequadas. Tal ausência é motivada pelo racismo institucional, que antecede a tudo isso. Nas cidades, quem cuida dessas políticas são os prefeitos e vereadores. Pela qualidade de vida que tem a população negra brasileira pode-se depreender que ela vem votando em quem não gosta dela. Nós elegemos e damos poder àqueles que uma vez eleitos vão operar na contramão dos nossos direitos de cidadania. Tais políticos fazem um silêncio sombrio sobre as mortes avassaladoras da juventude negra. Não têm proposta para as nossas periferias a não ser referendar a violência. Violência que se dá pela falta de creches, postos de saúde, centros culturais e culmina com a ausência de oportunidades que arrasta a juventude pobre e negra para a morte. Quando aqueles equipamentos existem, não têm qualidade. As regiões mais carentes precisam ser compensadas com creches, postos de saúde, escolas e centros de lazer de excelência. O melhor para quem tem menos: equidade regional. A gestão municipal funciona hierarquizando os cidadãos: os de primeira e segunda classe. Não conseguem perceber que o investimento qualificado nas periferias faz brotar ouro, como se viu com o sucesso dos ganhadores das olimpíadas que não vieram dos bairros ricos. No dia da eleição, quando vejo o povo preto nas filas para votar, sinto-o como gado indo para o matadouro, pois é o único eleitor do mundo que elege os seus inimigos.

É um escândalo a população negra eleger e empoderar aqueles que, uma vez eleitos, cuidarão com zelo da destruição de seus sonhos. Essa perversidade se deve, principalmente, pela forma sofisticada do racismo atuar em um país de maioria negra, onde os meios de comunicação e a Educação existem para perpetuar a ordem vigente desde sempre.

Por conta disso, o blog BRASIL DE CARNE E OSSO vai sugerir alguns candidatos e candidatas para as Câmaras Municipais de Salvador, São Paulo, Rio e Belo Horizonte, os quais vão operar a favor dos direitos dessa maioria negra tão mal representada. Aguardem.

Sem o trabalho de multiplicação pelas redes sociais, WhatsApp e outros meios eletrônicos, não vai acontecer. Portando, vamos sugerir também uma metodologia mínima. A campanha é cara e curta e esses candidatos que serão apresentados não são ricos, mas têm compromisso e capacidade: duas coisas necessárias e complementares para o bom exercício da vereança.

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Quem É Ouro no Brasil

23 terça-feira ago 2016

Posted by Helio Santos in esporte

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cotas raciais, Olimpíadas, questão racial

medalha de ouro

Foto: Reuters – Bruno Kelly

As fotos revelam que a principal fonte de medalhas de ouro das Olimpíadas foi a população negra, que segundo o IBGE é formada por pretos e pardos.

Tenho dito que a periferia brasileira é ouro puro; figuração que faço para evidenciar a riqueza que ali sobrevive. Nada vale mais nesse planeta do que talento, mais que o próprio ouro. E convenhamos: esse material é abundante em nossos bairros periféricos, favelas, cortiços e invasões. As Olimpíadas que acabaram de se encerrar no Rio comprovou de forma cabal o que dissemos recentemente aqui nessa página. Sempre lembro que, apesar de dispormos de fartos veios de ouro puro, optamos pelas bijuterias. Ou seja: valorizamos os bem-nascidos que não precisam se empenhar para manter seus privilégios. O resultado é o país que nos resta: baixa capacidade de crescimento com inclusão; jejum completo de Prêmios Nobel e medíocre pontuação nos principais rankings mundiais de excelência. Bem, há duas exceções em que somos modelos: na música e no futebol – precisamente nos dois setores em que os negros não foram impedidos de atuar.

O que as Olimpíadas revelaram é que basta um investimento básico para que o retorno venha com fartos ganhos para a cidadania brasileira.

5 medalhistas

É o caso de Rafaela Silva (24 anos), nosso primeiro ouro no Rio, oriunda da Cidade de Deus e que sofreu ataques covardes na Internet. É hoje sargento da Marinha.

Thiago Braz (22 anos) que, além do ouro, estabeleceu recorde olímpico no salto com vara: 6,03 metros. Foi criado pelos avós paternos e sofreu processo de abandono pela mãe.

O boxeador baiano Robson Conceição (27 anos) foi outro que viveu uma saga para chegar ao pódio, conquistando uma inédita medalha de ouro na categoria leve.

É ainda o caso do ex­ajudante de pedreiro Maicon Siqueira (23 anos) que faturou a 2a medalha brasileira num esporte ainda raro por aqui, como o taekwondo.

Mas de todos os laureados ninguém foi mais extraordinário do que o também baiano Isaquias Queiroz (22 anos) que ganhou 3 medalhas – 2 de pratas e uma de bronze, ­, tornando­se o primeiro atleta brasileiro a cumprir tal façanha numa mesma edição das Olimpíadas. O Brasil disputa as Olimpíadas desde 1920 e coube a este canoeiro – pobre e do interior – essa epopéia. Seu parceiro na disputa em dupla – Erlon Souza (25 anos), em sua primeira Olimpíada ganhou também a medalha de prata.

Todos esses heróis olímpicos são de origem humilde, como de resto são também quase todos os atletas negros da seleção olímpica de futebol e que são a maioria daquela equipe.

Por outro lado, a natação nas Olimpíadas não conquistou uma medalha sequer. Entenda­-se, não foi por falta de piscinas: clubes, condomínios, residências e colégios particulares dispõem de um estoque excessivo desses equipamentos, sendo que diversos desses espaços contam ainda com instrutores de natação.

Quando o Ministério dos Esportes, que no Brasil tem sido moeda de apoio político, passar de fato a investir nas periferias com a construção de equipamentos adequados e com material humano de apoio, a colheita de medalhas será farta. Repito mais uma vez: nenhum país pode, impunemente, desperdiçar talentos como faz o Brasil.

Tal desperdício aqui se deve ao racismo institucional que impregna as políticas públicas e as decisões do setor privado.

 

 

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Medidas Antifraudes Não São Tribunais Raciais

18 quinta-feira ago 2016

Posted by Helio Santos in cotas raciais, Questão Racial

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cotas raciais, questão racial

Volto mais uma vez a esse tema que já deveria estar superado há pelo menos 10 anos.

Foi uma epopeia, em que batalharam muitos atores e atrizes, a conquista das ações afirmativas, apelidadas de “cotas raciais” no Brasil. Em meados dos anos 1980 o Movimento Negro já questionava a “neutralidade” do setor público em relação à cidadania da população negra e passa a operar a partir do Estado; o mesmo que durante séculos fizera um silêncio de chumbo contra todas as arbitrariedades cometidas contra aquele segmento. Quando o tema “pegou fogo”, 10 anos depois, enfrentamos um “muro midiático” incansável que insistia – e ainda insiste – em repetir o mantra do “problema social”. Teríamos aqui um problema social – os chamados “carentes”; mas não racial. Essa mídia, que não se aventurara antes a defender ações afirmativas para os pobres, passou a defendê-las. Foi um jogo sujo, onde jamais o contraditório teve o espaço devido para rebater na mesma dimensão as aleivosias plantadas num sem-número de editoriais. Há estudos acadêmicos que flagraram essa distorção: artigos e dissertações. Intelectuais e pessoas influentes se juntaram e tiveram um espaço poderoso na grande mídia (Grupos FOLHA, O ESTADO, GLOBO e ABRIL) para desmoralizar o fundamento das ações afirmativas para negros. Argumentavam todos que os negros eram a maioria empobrecida e que, portanto, as “cotas sociais” os beneficiariam. Importante saber: somente há cotas sociais nas universidades públicas, hoje, porque os negros reivindicaram espaços. Portanto, as “cotas sociais” são um subproduto legítimo das “cotas raciais”. O simplismo desse debate é apenas aparente. O que está em jogo é de cunho ideológico: como não há racismo e nem uma questão racial no Brasil – argumentam -, as políticas hão de ser de cunho social, contrariando a tese do Movimento Negro que tem na história racial do indivíduo a marca que justifica a ação afirmativa.

“Tribunal Racial” como álibe para o retrocesso

A Orientação Normativa que estabelece regras para aferir a veracidade da autodeclaração racial nos concursos públicos não é um “Tribunal Racial” implementado pelo Governo Temer. Trata-se de uma medida inspirada no Ministério Público de quem o Movimento Negro há quase uma década reivindica medidas para evitar fraudes absurdas. É um escândalo mais uma vez roubar-se o protagonismo negro.

A mídia brasileira vive hoje um momento de vingança contra a “lavada” de 11 a zero no STF, decisão que foi favorável às cotas raciais. Editoriais de norte a sul comemoram, como se nos admoestassem: “nós avisamos”, não dá para saber quem é negro no Brasil….

Comparar a Orientação Normativa N. 3 de 1/8/2016 da Secretaria de Gestão de Pessoas do Serviço Público a um “Tribunal Racial” é muito mais que má-fé. De fato, não há como negar: existem “tribunais raciais” no país – sim -, onde negros não têm nenhuma chance de defesa pois são sumariamente mortos, como os 5 garotos chacinados por 111 tiros da PM no subúrbio do Rio de Janeiro. Toda sociedade brasileira sabe desses “tribunais”: mídia, partidos, governo, instituições, etc.

O Movimento Negro vem sendo omisso em relação a diversos aspectos de interesse da população negra. Todavia, beira à irresponsabilidade não perceber o que está em jogo. Estão vindo à tona todos os pseudos-argumentos que vencemos a duras penas em 15 anos de lutas. Trata-se de um falso debate. Falso, porque o beabá da gestão pública exige transparência e fiscalização – ambas são da essência do regime republicano. Deve-se sugerir que medida normativa semelhante seja estendida às universidades públicas, onde o descalabro é total (a esse respeito, sugiro ler artigo no site da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – RBEP, volume 94, N. 237).

O que se percebe é que parece haver interesses escusos em curso. Qualquer retrocesso das políticas afirmativas implementadas pelo Estado Brasileiro virá por aí – os supostos impedimentos da autodeclaração.

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Al Jolson no filme The Jazz Singer (1927)

Autodeclaração e Falsidade Ideológica

Uma pessoa branca se autodeclara negra e assume com a conivência de todos – inclusive de órgãos como a OAB e MP – o lugar reservado a uma pessoa negra na universidade ou na Administração Pública. Nota-se aqui o pior dos racismos: aviltar e fraudar direitos tardios conquistados por diversas gerações de ativistas. Em tempo: falsidade ideológica dá cadeia, 1 a 5 anos mais multa. Alguém conhece algum fraudador que tenha sido penalizado?

Debater a ideia de como aferir a veracidade da autodeclaração racial me parece importante. Porém, contestar essa exigência sem propor nada que vede as fraudes é irresponsabilidade ou má-fé. A simples menção da exigência já deverá afastar a maioria dos fraudadores.

Parece que alguns entendem a autodeclaração – algo valioso para a luta antirracista – como um passe livre contra o qual não cabe nenhuma contestação. Pasmem: a primeira iniciativa de alguns fraudadores é destruir seu perfil no facebook. Há casos de quem recorra a processos de bronzeamento. Outros encrespam o cabelo. Enfim, se fantasiam de pretos. Para os cargos mais valorizados há situações insustentáveis dado o número de fraudes. O mesmo se dá nos cursos mais valorizados das universidades públicas. As ações afirmativas não são auto-monitoráveis. Pelo contrário: requerem produção de conhecimento na área da Administração Pública em virtude do descaso do Estado e da Academia nesse campo aqui no Brasil. Nesse sentido, deve-se louvar a iniciativa da Secretaria de Gestão, pois atende à uma demanda antiga do Movimento Negro.

Percebe-se que está em curso um 3º tempo de um jogo já vencido pelo ativismo negro brasileiro. O que se exige, hoje, é um novo jogo que efetive e amplie nossos direitos. Não se deve entrar nesse enredo falacioso não percebido por alguns, pois não se busca assegurar os direitos do povo negro; muito pelo contrário.

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O Que Fazer Pela Equidade Racial Hoje – Artigo III

02 quinta-feira jun 2016

Posted by Helio Santos in Equidade Racial

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agenda liberal, desigualdade racial, Equidade Racial, impeachment, partido negro, questão racial

O Brasil tem uma desigualdade renitente porque não deseja e não suporta decifrar suas entranhas em que o componente étnico-racial, desde sempre, foi e continua sendo o seu vetor estruturante. A pobreza e a desigualdade aqui têm cor e procedência. 

Uma Corrente pela Equidade Racial

A farsa do impeachment é apenas a ambiência preparada para uma agenda que vem sendo chamada pela grande mídia de “liberal”. Em verdade, trata-se de uma agenda de reação contra direitos conquistados, reafirmando um posicionamento de Milton Santos: “Aqui se luta pela manutenção de privilégios; não por direitos.”

Quando ruralistas, evangélicos e MPL se unem para forçar uma agenda conservadora, como se posicionar contra ela de forma eficaz?

Fugi da ideia de “Partido Negro” a vida toda, mas algo precisa ser feito. Os partidos não assumem nossa agenda inteira. Nos anos 80 a esquerda se posicionava contra a pauta específica racial, nos 90 não jogou firme ao nosso lado quando sofremos um ataque midiático sem precedentes e neste início de século os ditos “progressistas” não decifram uma agenda adequada para o Brasil de carne e osso. Claro, o ativismo negro tem muita responsabilidade nisso – todos e todas nós.

O sectarismo, aparentemente manso, dessa “agenda liberal” não é bom para o país, porém ele acaba nos inspirando para uma ação política que é o perfeito avesso daquela ideia.

Subversão Santa

Não se desenvolve uma corrente com aquela missão sem 2 elementos cruciais: 1) lideranças proativas que não partidarizem a questão racial e 2) Tecnologia de informação adequada, pois somos um país continental com mais de 5.500 cidades. É necessário explicar: “não partidarizar”, significa não crer que cabe a quaisquer dos partidos existentes a primazia de levar a bandeira da equidade racial. Os/as ativistas podem estar nos partidos, mas conscientes de que nenhum deles tem a compreensão de que esta questão é o que estrutura as desigualdades no Brasil.

Uma Corrente pela Equidade Racial no Brasil, pode se revelar um instrumento adequado para discutir com profundidade o advento de uma cultura de desenvolvimento nova, plural e mais justa. Uma sociedade que em vez de hierarquizar as diferenças, busque valorizá-las e preservá-las. Enfim, uma sociedade que dê término a essa indecência que em pleno século 21 mantém o “país do futuro” convivendo com doenças como a dengue, zika vírus, tuberculose, doença de chagas e outras pragas antigas que são as chamadas “doenças de pobres”, que ainda nos avassalam.

Todavia, como bem observa Edson Cardoso, esse protagonismo para ter efetividade de cunho político precisa estar direcionado. Não existe outra direção que não seja a da Equidade Racial. Tudo o que se fez até aqui no Brasil não foi capaz de torná-lo um País cidadão. Pelo contrário: a subcidadania renitente que nos flagela o comprova de maneira cabal e ordinária.

Ninguém poderá dizer que essa é uma agenda para a população negra apenas – mais da metade do país -, pois se trata de uma resposta inteira às desigualdades que tornam o Brasil um gigante com os pés de barro. Portanto, reafirma-se aqui uma posição que temos reiterado: a batalha pela equidade racial, longe de ser um problema, é a busca de um caminho para o Brasil, cujo rumo jamais se ajustou.

Portanto, nossa provocação que se completa nesse último texto, responde parcialmente à questão-título, deixando em aberto, contudo, qual o mecanismo a ser usado para a colimada efetividade política.

As lideranças negras têm errado muito e o preço, muitas vezes, tem sido pago com a vida de muitos dos nossos; especialmente os mais jovens. Continuamos a ser os derradeiros subversivos do Brasil. Temos de praticar uma subversão santa iniciada no fim do século 16, quando a ideia de liberdade nas Américas foi fincada pela primeira vez pelos Palmarinos. Precisamos honrá-los.

Foto: Lula Marques/Agência PT)

Foto: Lula Marques/Agência PT

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O Que Fazer Pela Equidade Racial no Brasil Hoje? Artigo II

26 quinta-feira maio 2016

Posted by Helio Santos in Equidade Racial, Questão Racial

≈ 3 Comentários

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Equidade Racial, questão racial

Ao longo do tempo, em quase 500 anos de Brasil, a população negra desenvolveu uma espécie de antídoto contra as tragédias do cotidiano. Foi assim ao longo dos 3 séculos e meio de escravismo e tem sido dessa forma nos 128 anos do pós-Abolição, que se completaram no 13 de Maio último.

Bijuterias Finas

Nos últimos tempos, sentimo-nos meio estagnados como movimento social, apesar do intenso e massivo protagonismo de pequenos e mínimos empreendedores e empreendedoras. São protagonistas não apenas econômicos, mas, sobretudo, agentes sociorraciais. São coletivos que trabalham com a cultura hip hop, são modistas talentosas que exibem uma performance black fashion encantadora, são esteticistas revolucionárias, são ainda os inúmeros coletivos de estudantes negros, cada vez mais independentes da influência deletéria dos partidos, são meninas e meninos blogueiros que se viram em sua precariedade mas que desenvolvem criativa tecnologia virtual, são intelectuais jovens, sobretudo mulheres, que se destacam dentro e fora do habitat acadêmico, são artesãs da culinária que comercializam suas delícias, são ainda grupos de produção literária – alguns já bem estruturados, mas inúmeros funcionando como podem -, mas todos transpirando abundantemente o que há de melhor da nossa energia – essa lista não tem fim…

Esse protagonismo negro impressionante opera isoladamente, na maioria das vezes, nesse brasilsão continental e profundo. Essa resiliência grupal negra é ouro puro, mas sabe-se da preferência brasileira por bijuterias. Bijuterias finas.

Um protagonismo Esfuziante

É necessário perguntar: o que fazer com essa resiliência grupal esfuziante desperdiçada e solta nesse desigual país? A resposta dessa pergunta contempla e absorve a questão-título.

Requer-se uma corrente capaz de absorver essa resiliência construída ao longo de quase meio milênio. Contraditoriamente a essa movimentação intensa e luminosa de amplos setores da população negra, sente-se uma estagnação do Movimento Negro. Como transformar esse protagonismo real em um movimento com um sentido social é um desafio que vale a pena. Um movimento sócio-político com repercussões efetivas na cidadania negra-brasileira. Trata-se do enigma que temos de decifrar nesses tempos: a movimentação protagonista da população negra alimentando a um Movimento Social Negro proativo e não partidarizado, afiliado às legítimas e seculares demandas do Brasil profundo, que não é apenas negro, mas que tem uma inflexão aguda de gênero e também indígena. Refiro-me agora ao desenvolvimento de antídotos novos e mais eficazes contra o calidoscópio mutante do racismo no Brasil do século 21. Nos séculos 16 e 17 se construíam quilombos. E agora? Temos de refundar um movimento sócio-político a partir daquele protagonismo.

Essa movimentação precisa estar apta a operar com frentes, coletivos, associações e até mesmo com partidos sem, contudo, quebrar a identidade destes entes. Desenvolver um novo protagonismo que retroalimente na direção da Equidade Racial, cuja ausência vem a ser o vetor que torna o gigante Brasil um dos países mais desiguais do mundo.

Trata-se de uma usina capaz de gerar energia para uma política restauradora, onde o Ministério da Fazenda cuide de arrecadar os 500 bilhões de reais sonegados por ano (dados de 2014) e não de propor arrochos sociais. Meio trilhão de reais cobre com sobra todos os déficits anunciados com pompa pela mídia. Não se sabe de um partido sequer capaz de propor e efetivar essa “façanha”.

A quem caberá, então, “façanha” semelhante?

Continuamos no Texto 3; o último dessa série.

protestonegras

Foto: Matheus Rodrigues/G1

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O Que Fazer Pela Equidade Racial Hoje? – artigo I

24 terça-feira maio 2016

Posted by Helio Santos in eleições, Equidade Racial, Questão Racial

≈ 1 comentário

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Brasil, brasil de carne e osso, Equidade Racial, helio santos, questão racial

Seria pretensão de minha parte ter a resposta inteira para a pergunta-título e sempre procurei desenvolver as ideias e projetos com os quais me envolvi ao longo da vida operando em parcerias. Sou avesso a voos solos e deve ter sido por isso que acabei não tirando o meu brevê de piloto privado na minha juventude.

Agenda Liberal

O presente texto foi inspirado em um diálogo com um ativista – intelectual e educador exemplar – ao qual a luta antirracista do Brasil muito deve. Essa pessoa amiga me instou a pensar/propor caminhos estratégicos para um momento em que há riscos graves em jogo. Tudo o que essa pessoa expôs para mim, começa a se delinear com a clareza do sol. No dia 2 deste mês, os jornais noticiavam: “MBL, ruralistas e evangélicos se unem por Estado mínimo, reforma trabalhista e ajuste fiscal” (Folha de S. Paulo). Apelidam essa estratégia de “agenda liberal”; o que vem a ser um eufemismo absurdo. Estado mínimo para fortalecer a Saúde e Educação? Não; pelo contrário. Reforma trabalhista para pensar numa política de efetiva valorização dos talentos femininos e negros? Também não. A ideia é precarizar e reduzir direitos conquistados duramente. É desnecessário detalhar qual grupamento perderá mais com essa “agenda liberal”… Dois aspectos iniciais devem ser considerados: 1) a população negra, em sua larga maioria, sempre viveu aqui em algum tipo grave de crise, tanto do ponto de vista socioeconômico, como psicológico e moral; e 2) a Terceira lei de Newton – a da reação – que pode e deve ser transmutada da física para a vida social. É precisamente sobre o tópico 2 que pretendo me aprofundar aqui.

Ação & Reação

Quando evangélicos, ruralistas e movimentos conservadores se articularam pela maioridade penal muitos de nós duvidaram, mas eles acabaram ganhando aquela batalha. Agora eles anunciam publicamente o que pretendem com essa agenda tenebrosa – o que autoriza aos mais céticos se moverem. Como reação: o que os prejudicados por essas eventuais medidas devem fazer?

Antes de responder é importante ponderar: o eleitor negro é o único do mundo que elege e empodera os seus inimigos – aqueles que destroem seguidamente sua potencialidade.

Continuamos no Texto 2

 

EECUN2

Encontro Nacional de Estudantes e Coletivos Universitários Negros – EECUN/ 2016

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Arrumando a Casa (Grande)

21 sábado maio 2016

Posted by Helio Santos in Governo Interino, Michel Temer, Reforma Ministerial, Uncategorized

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arrumando a casa, Golpe, governo Temer, impeachment, questão racial, sonegação de impostos

Novo governo, mas mantendo o velho Brasil com as mesmas ideias e repetindo os mesmos mantras, buscando “arrumar a casa”. No fundo, rearranjam sempre a velha casa grande sem perder seu significado histórico e sociocultural. Sempre homens brancos com o ibérico cacoete da dissimulação.

enquadramento do Facebook 2

Foto: Lula Marques – Agência PT

A tragédia para a maioria que não habita a casa grande se agrava com os infindáveis ajustes das crises que se reiteram, quando se sabe que a mais aguda de todas elas sequer é tocada: a moral. Os causadores das crises se esmeram em ajustá-las de forma que de fato nunca se toque no estrutural, naquilo que mudaria o país profundo e injusto que teimamos ser.

A nova equipe econômica que se fotografa ao lado do presidente interino tem um foco agudo, urgente e unânime: cortar despesas, ou seja “reestruturar o gasto público”. Dez entre cada dez tecnocratas repetem esse mantra gostosamente. A análise da equação em que receitas menos despesas ocasionam um superávit ou um déficit foca exclusivamente nas despesas – as vilãs de sempre. Os gastos determinados pela Constituição Federal vêm sendo cada vez mais considerados “incompatíveis” com o orçamento brasileiro. Resumindo: querem quebrar normas constitucionais que beneficiam os que não habitam a casa grande. Todas as vozes do governo – repetidas mansamente pela mídia – gritam: há “um rombo de 150 bilhões”. Outras mais alarmistas (ou realistas) aumentam: seriam 200 bilhões “o tamanho da encrenca”. Não insinuo serem estes números falsos, apesar de não existir transparência que os confirmem. Eu me encrenco mesmo é com a pobreza (ou mesmo com a ausência) da análise que recai sobre as receitas.

Especializar no Óbvio

Não vou aqui recorrer à tributação das grandes fortunas, que é constitucional mas que jamais foi regulamentada. Tampouco sugiro criar novos impostos ou aumentar as alíquotas dos já existentes. Proponho única e tão-somente que se recolha os tributos devidos, mas que escoam pelo generoso e deliberado ralo da sonegação fiscal. Ou seja, reclamo mais uma vez sobre a urgente necessidade da tecnocracia brasileira se especializar no óbvio. Nas raras vezes que isso acontece o país melhora.

Quem fala da sonegação fiscal são aqueles que mais lidam e conhecem-na de perto: os procuradores da Fazenda Nacional. O sindicato nacional da categoria estima que em 2013 cerca de 415 bilhões deixaram de ser pagos, em 2014, 500 bilhões e em 2015, 420 bilhões; o que totaliza em 3 anos cerca de 1,3 trilhões de reais!

Proposta: uma operação tipo Lava Jato para a Sonegação Fiscal

Proponho uma operação que utilize tecnologia adequada que a Receita Federal já dispõe, ao mesmo tempo que se contrate, sempre mediante concurso, mais técnicos (analistas e auditores) dando a estes um bônus participativo de 50% das multas – apenas nestas. Asseguro que os 200 bilhões reclamados serão zerados com alguma folga. Nos próximos exercícios haveria dinheiro suficiente para investir na saúde e na educação dos que estão fora do enredo da Casa-Grande, como por exemplo, a universalização das creches e pré-escolas em tempo integral para a crianças até 6 anos. Direito assegurado pela CF, mas sempre descumprido.

Como se diz em Minas Gerais: “ganha um doce” quem responder corretamente o porquê de uma medida óbvia como essa jamais ter sido tomada? Não o foi pelos governos anteriores e não será de forma alguma implementada por este que está de plantão. Alguém pode supor o doutor Meirelles – novo ministro da fazenda -propondo algo parecido?

Raposas zeladoras do Galinheiro

A resposta à pergunta do “ganha um doce” é óbvia como a minha sugestão: escalam-se sempre raposas bem treinadas (tecnocratas e/ou empresários) para zelarem do galinheiro (tesouro nacional). A máquina da receita permanece travada para autuar os sonegadores contumazes e impunes. Essa desautorização informal aos agentes da Receita Federal é o que autoriza ao novo ministro da saúde sugerir cortar gastos numa área cujos serviços têm sido desde sempre uma indecência a céu aberto no Brasil de carne e osso.

A rigor, não é completamente nova a atual equipe econômica, pois o poderoso e atual ministro da fazenda, Henrique Meirelles, foi o super-presidente do Banco Central no primeiro Governo Lula, fazendo jus ao status de ministro…

Ouro Puro

Nossas periferias contêm fartos veios de ouro puro, mas na terra brasilis ama-se bijuterias. Bijuterias finas. O ouro-metal o colonizador rapinou, mas o humano sobrevive e, contraditoriamente, se expande.

Para o desenvolvimento com sustentabilidade moral, onde as oportunidades tendem a ser iguais – medida que de fato pode propiciar a integração do país gigante –, ninguém parece acreditar que o velho Brasil requer respostas novas; insiste-se em não pensar fora da caixa. Não se mira na reconhecida criatividade do povaréu escorraçado da cidadania, que se vira como pode, com o transporte precário, com a ausência de equipamentos urbanos adequados, como hospitais, escolas e áreas de lazer, com a estupidez da violência policial e tudo o mais. São sobreviventes renitentes e criativos que seguem em frente a despeito de tudo: dos políticos, dos partidos, das elites e do que mais houver zelando pela manutenção da Casa-Grande – secular, resistente e miserável.

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