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Brasil de Carne e Osso

~ Debate sobre direitos civis, igualdade racial, diversidade e outros assuntos urgentes do Brasil real.

Brasil de Carne e Osso

Arquivos da Tag: Política

Desigualdade, a marca do Brasil

Destacado

Posted by Helio Santos in Copa, cultura, Equidade Racial, esporte, Futebol, movimentos sociais, Mulheres Negras, Questão Racial, racismo, Uncategorized

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Brasil, congresso, desigualdade racial, evento, negros brasileiros, Política, questão racial, racismo

Nada demarca de forma mais devastadora o Brasil. Ela está em nosso DNA. Muitos falam dela, poucos a decifram. A sociedade brasileira já se acostumou com ela, mas nada chama mais a atenção das pessoas de fora que nos visitam.

O mais adequado seria falar em desigualdades – no plural -; identificando como cada tipo incide sobre a cidadania das pessoas e, muitas vezes, de maneira acumulativa onde múltiplas facetas oneram um único indivíduo.

Antes que algum analfabeto político, praga maior do momento que vivemos, diga que é mi-mi-mi falar sobre o que faz o Brasil ser o esgoto social a céu aberto que é, vale a pena observar como o mundo nos vê. Ou seja: fora do Fla – Flu que se tornou o nosso infeliz debate político.

Por ocasião da Copa que se findou, um âncora da rede CBC do Canadá suscitou uma questão ao “país do futebol”: Foram duas perguntas: “Por décadas, a cada quatro anos, o Brasil envia um esquadrão talentoso à Copa, que reflete sua população racialmente diversificada, mas os torcedores nas arquibancadas jamais o são. Por que isso nunca muda? Existe mudança no horizonte?”

International Friendly - Austria vs Brazil

Seleção Brasileira Rússia 2018

torcida_do_brasil

Torcida Brasileira Rússia 2018

A segunda pergunta deveria ser o foco dos debates num ano eleitoral, pois se refere à maioria da população (55%). Ocorre que somos o país dos sorteios e loterias, mas no campo da cidadania não existem brindes: ou se conquista ou não se tem. Aqui, o eleitor negro (e empobrecido) é o único do mundo que elege os seus inimigos – sem exagero, é o que ocorre.

Câmara dos deputados

Câmara dos deputados

A desigualdade aqui possui 2 vetores básicos: tem cor em decorrência do processo histórico de 354 anos de escravismo, o que estigmatiza a maioria e tem sexo em virtude da feminilização da pobreza. Até o presente momento permanece inédita uma estratégia capaz de sustentar um movimento que faça o gigante Brasil caminhar com sustentabilidade sociorracial – precisamente porque isso significaria correr na contramão do que o País sempre foi e pretende continuar a ser. Uma sociedade que se autoatribuiu limites de forma a deixar amplas parcelas de seus cidadãos e cidadãs de fora. Não se trata de uma desigualdade fortuita, pois foi construída com zelo ibérico.

Claro; há quem veja este diagnóstico como pesado, racista às avessas, e que não leva em conta o mérito etc, etc. O pior cego aqui não é o que não quer ver, mas o que pensa que vê. Mesmo assim não ouso entender essa miopia como de boa-fé.

O agravante aqui são as não-soluções trazidas. Elas veem com as protelações que lembram as vezes em que se adiava a Abolição, até nos tornarmos os últimos a dar fim ao escravismo colonial. Ou seja: o racismo institucional tem um componente inercial que realimenta e fortalece as desigualdades consolidando o que na falta de outro nome denomino Dialética da Exclusão Brasileira. Não há à mão exemplo mais didático do que a destruição dos Direitos Sociais conquistados na CF de 1988. A famigerada Emenda Constitucional 95 não “congela” os gastos como se falou, mas estabelece um teto de gastos do Produto Interno Bruto (PIB) que vai declinando ao longo do tempo. Trata de asfixiar um paciente que já padecia de falta de ar. Todas as análises já evidenciam como esse desastre impactará indígenas e negros.

Ora, nem na Copa de 2014, que foi no Brasil, havia negros nas arquibancadas com ingressos com o preço beirando a um salário mínimo, como observou a CBC canadense. O horizonte indagado pelo âncora será tão menos sombrio a depender da movimentação que formos capazes de engendrar em 2018 e 2019.

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FUNDO PARA A CAMPANHA DAS CANDIDATAS NEGRAS

29 terça-feira maio 2018

Posted by Helio Santos in eleições, Mulheres Negras, política, Questão Racial, racismo, Radicalizar na democracia, Uncategorized, violência, Violência Racial, Visibilidade dos Negros

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Economia, eleições, mulheres negras, Política, racismo

Apesar do baixo-astral reinante na terra-brasilis, entrei em 2018 confiante: creio que pela primeira vez o Brasil irá decifrar a essência de suas desigualdades. Sem isso não é possível pensar num projeto de nação. As desigualdades aqui são infames e, todos sabemos, elas têm procedência histórica, cor e sexo. Mais: as desigualdades de raça e de sexo demarcam o esgoto social a céu aberto que o Brasil sempre foi, mas que, presentemente, tornou-se uma anomia social-moral insustentável.

Finalmente, parece que a “ficha caiu” para todas e todos! Alguns, aglutinados em seus nichos partidários, foram os últimos a ceder aos fatos: estamos por nossa conta e risco na luta para efetivar as mudanças estruturais desse país racista, misógino, homofóbico, classista – uma verdadeira máquina de moer cidadania. Quem entender que se trata de exagero – sempre há quem queira contemporizar -, considere o congelamento por 20 anos dos direitos sociais; a mortandade genocida dos jovens negros; o retorno de doenças que estavam extintas; o crescimento de 500% do encarceramento de mulheres negras. E, finalmente, a execução de Marielle Franco. A execução de Marielle foi um recado direto ao maior segmento da população brasileira: as mulheres negras. Já havia visto em 18 de novembro de 2015 um avant-premier desse filme: a marcha pacífica das mulheres negras foi recebida a tiros em Brasília. Mulher negra empoderada, reivindicando o seu devido espaço na esfera do poder é algo surreal para uma elite anacrônica e, porque não dizer aqui, também perigosa.

Toda essa conversa é para nos introduzir ao título acima: o STF decidiu que, pelo menos, 30% do Fundo de Financiamento de Campanha das próximas eleições deverá ir para as mulheres candidatas. Cerca de 1 bilhão e setecentos milhões de reais serão distribuídos aos partidos. 30% desse valor terá de ir para o custeio das campanhas das mulheres, cerca de 510 milhões de reais.

Fonte:MDB, PT e PSDB terão mais dinheiro do fundo eleitoral; veja divisão

A EDUCAFRO, com o meu absoluto apoio, entende que a metade desse valor destinado às mulheres nos partidos deve vir para o financiamento das candidaturas das mulheres negras. Ou seja: 255 milhões de reais. 51,8% (mais da metade) das mulheres brasileiras são negras.

Sem esse cuidado na repartição dos recursos, sabe-se que uma posição de neutralidade não alcança o objetivo pontificado pela Ministra Rosa Weber do STF que tomou essa decisão tendo como referência o princípio constitucional da IGUALDADE

Evidente que os partidos políticos podem exceder esse limite de 30% fixados pelo STF, considerando que os homens na sociedade brasileira têm mais acesso aos recursos para financiamento de campanha, fruto do tipo de sociedade que aqui se construiu. Apenas 10% da Câmara dos Deputados são de representação feminina – uma das mais baixas do mundo. Se considerarmos as mulheres negras isso beira à uma participação ínfima. Importante lembrar: as mulheres negras são o maior grupo da população brasileira!

Câmara dos deputados

Câmara dos deputados

Para que se tenha uma ideia de valor: o MDB – maior partido – receberá 234 milhões; o que significa cerca de 70 milhões para as mulheres dos quais 35 seriam para as candidatas negras. O PT, segundo maior partido na Câmara, deveria destinar às candidatas negras da legenda pelos menos 32 milhões de reais dos 212 que embolsará. Pela ordem, o PSDB, transferiria para as suas candidatas negras cerca de 28 milhões de reais. Partidos menores como PSB, PC do B, PSOL e PDT, deveriam, respectivamente, distribuir às suas candidatas negras os seguintes valores: 18 milhões; 4 milhões; 3,2 milhões e 9,2 milhões de reais.

Espera-se que ativismo negro independente cobre das lideranças partidárias, quase todas elas exercidas por homens brancos, eventualmente até judicialmente se for o caso, para que a metade dos recursos destinados às mulheres sejam canalizados paras as candidatas negras da legenda.

Por outro lado, nada nos impede que façamos um FUNDO NACIONAL PARA AS CANDIDATURAS NEGRAS, em que pessoas avulsas poderiam doar de cinco a 100 reais, por exemplo. Agora, já pensando num Fundo que alcançasse homens e mulheres negras. Além dos recursos financeiros, que têm barrado, historicamente, a eleição de negras e negros, uma campanha por fundos traria as famílias negras para o centro do debate. Precisamos gritar ao povo negro: SOMOS OS ÚNICOS ELEITORES DO MUNDO QUE ELEGEMOS NOSSOS INIMIGOS. Para reverter todo esse entulho que desgraçará ainda mais a vida de nossas famílias, como o congelamento por 20 anos dos Direitos Sociais, precisamos eleger os nossos. A maioria da população brasileira, que é negra, vem ao longo do tempo empoderando pelo voto aqueles que, uma vez eleitos, destroem   seus direitos – seja pela ação ou omissão dessa elite eleita.

2018 promete, precisamos utilizar caminhos alternativos e inovadores para alcançar o voto negro – sempre desdenhado pelos donos do poder. Blogueirxs, artistas, ativistas, youtubers, agitadorxs culturais, personalidades, poetas e escritorxs precisamos construir com rapidez uma usina disruptiva para eleger uma bancada relevante de negros e, sobretudo, de negras em outubro próximo.

Um Fundo de Campanha relevante para as candidatas negras pode vir a ser o início de uma virada de jogo. Seria mágico em 01 de janeiro de 2019 termos dezenas de mulheres negras tomando posse num congresso machista e racista. O começo de uma profilaxia política em Brasília.

Marielle-Presente

Marielle Franco

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A Escória da Escória

22 segunda-feira maio 2017

Posted by Helio Santos in Corrupção, lavajato, Uncategorized

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Brasil, corrupção, eike batista, Joesley Batista, marcelo Odebrecht, Michel Temer, Política, Sergio Machado

Marcelo

Marcelo Odebrecht

Sergiomachado

Sergio Machado

eike

Eike Batista

joesley

Joesley Batista

As 4 fotos exibem a síntese do que há de pior no Brasil: homens com imenso poderio econômico, mas deserdados da mínima honra. São pessoas que como empresárias deveriam gerar riquezas: produtos, serviços, tributos e empregos. No entanto, lesam a sociedade, pois roubam e fraudam no âmbito do Estado. Quando atuam dessa forma, contribuem para a ruína da sociedade inteira.

Conseguem empréstimos generosos; fraudam as licitações; têm facilidade para obter licenças para explorar serviços públicos, como estradas, portos, aeroportos e meios de comunicação; ganham de presente leis feitas sob encomenda para que eles não paguem impostos e sonegam sem piedade, impedindo que recursos necessários cheguem à educação e à saúde. Vampirizam a cidadania do desgastado povo brasileiro. Retroalimentam as desigualdades num país profundamente desigual. O Tesouro Nacional tem sido a fonte para que suas famílias se tornem bilionárias em detrimento da cidadania.

Tudo isso foi feito, desde sempre, com a ajuda de comparsas do setor público: parlamentares, prefeitos, governadores, presidentes, juízes, ministros. Enfim, agentes que atuam na contramão de sua missão, que é servir a Nação e não se servir dela.

Na gíria da malandragem os que delatam seus parceiros de crime são chamados de “cagoetas” (alcaguetas). Para essa elite criminosa que atua no Brasil temos a Delação Premiada que oferece uma espécie de bônus para quem comete grandes crimes. Tais figuras são condenadas a ficar algum tempo em suas mansões com absoluto e exagerado conforto e sem nada fazer para purgar seus crimes. Sim; é verdade que não podem voar em seus jatos e helicópteros passeando pelo mundo afora, mas restam Netflix, bebida e comida de primeira e algum hobby para se praticar em suas mansões de veraneio.

Lotacao

Quem é mais pernicioso para a sociedade brasileira – o bandido “pé-de-chinelo”, assaltante e muitas vezes homicida – ou o criminoso de colarinho branco?

Ambos são bandidos e devem à sociedade pelos crimes cometidos. Os bilhões roubados e fraudados por Marcelo, Sérgio, Eike e Joesley daria para construir quantos postos médicos e hospitais bem equipados? Sabe-se que as pessoas do Brasil profundo padecem pela falta de exames e tratamentos que impediriam suas mortes – essa tragédia faz parte do nosso cotidiano.

Qual a diferença entre o assaltante homicida – tão temido por todos nós – e quaisquer dessas figuras bem-nascidas do colarinho branco?

A primeira diferença é que no caso do colarinho branco o dono do pescoço também o é. São, geralmente, bem-nascidos, frequentaram boas escolas e são ricos. Às vezes, muito ricos. Têm elevado capital social e viram nessa capacidade de influenciar uma oportunidade de maximizar suas fortunas.

Quanto aos assaltantes, cujos crimes não podem ser minimizados, em boa parte das vezes, têm baixa escolaridade. Vêm de famílias de risco, nasceram na periferia, muitos são negros (pretos/pardos) e viram no crime (tráfico ou roubo) uma oportunidade de ascensão.

Não se deve hierarquizar criminosos. São criminosos e ponto. Em verdade, a ação do colarinho branco, desviando recursos que fomentariam a cidadania, como educação de qualidade e saúde preventiva, acaba contribuindo para a criminalidade dos de baixo. Trata-se de um círculo vicioso rodado a partir da ação das elites corruptas.

O que chama a atenção na diferença entre os dois tipos de criminosos é como os bandidos bilionários não têm o mínimo pudor em denunciar os seus comparsas para livrar a sua cara. A delação tem permitido à sociedade conhecer as entranhas do poder no Brasil. Por outro lado, a prática demonstra que para o “andar de cima” o crime compensa. Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro, gravou até Sarney para se safar. Eike Batista, um dos “maiores empresários” do Brasil (Grupo EBX), antigo camarada de Sérgio Cabral, vai atolar na lama ainda mais a vida do ladrão-governador. E, recentemente, Joesley Batista (Grupo JBS), entregou todo mundo: PSDB (Aécio Neves), PT (Guido Mantega) e gravou ainda Michel Temer do PMDB. Quanto a Marcelo Odebrecht, visto no mundo da delação como a cereja do bolo, contribui para a ciência da administração brasileira pois traz um esclarecedor estudo de caso sobre como ocorre o crescimento empresarial na área da construção civil no Brasil. A ODEBRECHT atingiu a perfeição da bandidagem empresarial ao desenvolver um centro de custos para controlar a corrupção. O pai de Marcelo – Emilio – que o antecedeu na presidência do grupo, entrega a república inteira ao afirmar com destemor: “Tudo que está acontecendo é um negócio institucionalizado”. Mais: explica que os partidos não lutam por cargos, mas por “orçamentos gordos”. O caixa dois, para ele, tão falado nos últimos tempos, é “demagogia” da imprensa, pois é prática que remonta 30 anos.

 

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5 Milhões de Dólares

25 sábado jul 2015

Posted by Helio Santos in Corrupção

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corrupção, maioridade penal, Política

Na cotação de hoje (24/julho), 5 milhões de dólares perfazem cerca de 16 milhões de reais. É muita grana!

Eu não consigo pensar em muito dinheiro – recursos financeiros, como gostamos de dizer em finanças – sem fazer uma conexão com políticas que beneficiam pessoas. Dou importância ao dinheiro por isso; ele nos possibilita melhorar a vida material das pessoas. A Educação e a saúde são vetores importantes num país com as características do nosso – desigual e excludente.

Um conhecido meu, médico sanitarista e reconhecido especialista em políticas públicas, explicou-me que uma APS (Unidade de Atenção Primária à Saúde) possibilita um atendimento que reduz o número de pacientes a serem encaminhados para os grandes hospitais, pois cuida de boa parte dos exames e conta com equipes multiprofissionais.

Com 16 milhões de reais pode-se bem instalar 8 APS que poderiam funcionar em regiões com carência crítica na área de saúde, incluindo em seus custos o primeiro ano de funcionamento. Pode-se imaginar o impacto na saúde das populações beneficiadas – especialmente no campo preventivo. Claro que muitas vidas seriam salvas e muito sofrimento atenuado ou mesmo evitado. Não é possível calcular o custo-benefício dessa empreitada porque ela envolve aspectos humanos cruciais – a vida.

Antônio Carlos Jobim – o grande maestro e compositor – afirmou que “o Brasil não é para principiantes”. É necessário ter a inspiração de Tom Jobim para ter um insight deste porte. Uma frase simples que decifra de maneira profunda a alma do Brasilzão.

Foto Pedro França - Agência Senado

Foto Pedro França – Agência Senado

Um único bandido de colarinho branco, encastelado em Brasília, num único lance, (mas ele pode cometer vários) pode vir a ser mais letal que os menores infratores que serão atingidos pela lei que reduz a maioridade penal.

O interessante é que o discurso dos parlamentares que aprovaram aquela iniciativa enfatiza a vida. Não compreendo o porquê de a corrupção não ser tratada aqui como crime hediondo já que mata muita gente indiretamente e causa ainda sofrimentos sem fim neste mar de injustiça que somos. Com o dinheiro da corrupção poderíamos também pensar em construir creches e escolas infantis – asseguradas às crianças pela Constituição – negadas de norte a sul; de leste a oeste nesse país indecente.

A frase do nosso Tom ganha maior sentido quando percebemos que algumas leis defendidas servem de pano de fundo para gangsteres se locupletarem na contramão do discurso que fazem para o grande público! Fala-se da vida, mas roubando dinheiro, rouba-se ela também. São sofismas sofisticados e imperceptíveis à maioria da população. Não se deve pensar que “político é tudo igual”, pois não é. Há quem não seja ímprobo e queira servir em vez de ser servido.

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Fotos Que Explicam o Brasil – Parte III

30 segunda-feira mar 2015

Posted by Helio Santos in Fotos Que Explicam o Brasil

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cotas raciais, Dilma, dilma rousseff, Política, questão racial

Ao longo dessa semana foram analisadas três séries de fotografias que nos auxiliam a entender melhor o nosso país real, que eu venho chamando aqui Brasil de carne e osso – missão desse blog. A primeira série de fotos comentou o escândalo da Petrobrás; a segunda, cuidou dos protestos anti-Dilma pelo país afora e essa última e terceira série busca obter um flagrante da face do poder no Brasil.

O MINISTÉRIO DO GOVERNO DILMA 

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A foto do chamado primeiro escalão traz, além da presidenta Dilma, seu vice, Michel Temer. Dentre 39 ministros, tem-se apenas 6 mulheres. Alguém poderia argumentar que a figura central da república já é uma mulher. Sim; sem dúvida é um avanço num país comprovadamente machista como o nosso. Mas a participação das mulheres é baixa: cerca de 15% apenas. O talento feminino tem muito mais a oferecer num País desigual como o Brasil. Há apenas uma pessoa negra nesse escalão: a ministra da SEPPIR, Nilma Lino Gomes – conhecida e reconhecida educadora. Num país de maioria negra é muito pouco. No nível federal esse é o quadro.

Como estaria nos estados a participação dos negros? Dentre 27 governadores nem um é negro. Em São Paulo, maior estado da federação, com cerca de 35% de negros, não há uma pessoa sequer desse segmento ocupando cargo no primeiro escalão. No estado da Bahia, de absoluta maioria negra, cerca de 80%, há apenas três pessoas ocupando secretarias. Se analisarmos os principais municípios, não há prefeitos negros. Nas cidades de São Paulo e Salvador, por exemplo, tem-se apenas uma pessoa negra ocupando o cargo de secretário e nos dois casos trata-se da secretaria voltada para a questão racial. Temos em Salvador uma exceção: no primeiro escalão, há ainda a vice-prefeita Célia Sacramento – professora e ativista.

O PODER É BRANCO

Essa ausência do poder revela algo dramático: o eleitor negro brasileiro talvez seja o único do mundo que não elege a si mesmo – renegando assim o poder. Isso não é pouca coisa: é uma contradição que fragiliza uma autêntica democracia. Claro, a população negra pode ser representada por não-negros, mas a sua participação nos parlamentos (nos 3 níveis da federação) é muito desproporcional ao seu tamanho – isto se dá em todo o país.

Se poderá considerar também o fato de a democracia brasileira ainda estar em construção e que as eleições são viciadas etc. Se dirá também, com razão, que o poder econômico distorce a proporcionalidade que eu reclamo aqui, já que a população negra historicamente não pôde acompanhar o enriquecimento dos demais. Outras explicações poderiam ser dadas ainda. Entretanto, o voto aqui é obrigatório; o que significa dizer que o poder exercido no Brasil é delegado para pessoas não-negras em sua esmagadora maioria num País de maioria negra. Essa constatação revela uma disfunção grave na representação democrática.

Por que os programas do horário eleitoral em 2014, em quase todas as candidaturas para o executivo, nos mais diferentes lugares, utilizaram como âncoras mulheres negras? Vale um doce para quem acertar.

Se as maiorias estivessem adequadamente representadas, como convém a uma democracia, caberia ao segmento feminino negro a maior parte do poder; já que ele constitui a maior parcela isolada da população: maior que a dos homens negros, que a dos homens brancos e também maior que a das mulheres brancas.

O Brasil vive hoje um momento em que se discute o aperfeiçoamento das eleições e a reversão das práticas políticas inadequadas à democracia. Há na mídia um frisson nesse sentido. É importante discutir como o poder é acessado pelos setores sub-representados, mas é fundamental também ter claro o que fazer com ele.

Quem está disposto a aprofundar até as suas entranhas a questão da baixa representação feminina, como um todo, nas esferas do poder? E no que diz respeito à população negra?

A melhor resposta deve ser dada pelos próprios segmentos interessados. Afinal, não há brindes no particular campo da cidadania. Poder se conquista; ou você não o tem.

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Congresso Sob Suspeita

10 terça-feira mar 2015

Posted by Helio Santos in política

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congresso, deputados, eduardo cunha, Política, renan calheiros, senadores

CUnha e renan

As duas casas legislativas que compõem o Congresso Nacional – a Câmara dos Deputados e o Senado Federal – são presididas por Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos conhecidos e identificados por polêmicas nada edificantes. Calheiros, por usar avião oficial para fazer implante de cabelo ou ainda por estar envolvido no que foi chamado de renangate em que foi acusado de receber grana de empreiteira para pagar despesas pessoais e de pensão de uma filha. Cunha, por ter sido acusado pelo Tribunal de Contas do Rio de favorecer empreiteira construtora quando dirigiu a Companhia Estadual de Habitação (CEHAB), época em que foi associado à “Turma do Chuvisco” do Governo Anthony Garotinho – pessoal “gente boa”, envolvido numa série de escândalos. Essa turma só faltou fazer chover naquele estado nos anos em que Garotinho governou (1998/2001). Nesta última semana (3/3) aqueles dois dirigentes legislativos tiveram os seus nomes inscritos na lista de pessoas suspeitas por envolvimento no escândalo da Petrobrás, batizado pela Polícia Federal de “Operação Lava jato”.

Os dois parlamentares não estão condenados, mas deverão ser investigados. Ao todo, 47 políticos deverão ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Pena que não teremos a eficácia de Joaquim Barbosa ao analisar essas ações. O que me impactou especialmente foi como ambos reagiram à inclusão de seus nomes na lista dos investigados. Ambos se voltaram contra o governo, pois se entendeu o “dedo do Palácio do Planalto” por trás da investigação!

O deputado Eduardo Cunha, sugeriu que houve comemoração palaciana pela inclusão de seu nome; já o senador Renan Calheiros “partiu pra cima”: (1) atacou o governo; (2) devolveu medidas em que o poder executivo propunha ajuste fiscal e (3) atrasou a aprovação do orçamento de 2015!

Cara leitora e caro leitor: como você reagiria caso fosse acusado, por exemplo, de roubar dinheiro? Sairia atirando, desqualificando os acusadores ou exigindo que provas fossem apresentadas? A sua serenidade revelaria a sua certeza interna de inocência.

A infelicidade do Brasil é ter os dois principais líderes legislativos com os perfis de Renan Calheiros e Eduardo Cunha. O pior: eles foram eleitos pelos seus pares precisamente pelos seus defeitos e não por suas eventuais virtudes. Estão no topo do poder legislativo precisamente porque são como são.

Esse quadro – em que o poder legislativo está nas mãos de gente com o background de Calheiros e Cunha – me faz reforçar a tese de que a Desobediência Civil, mecanismo em que a própria sociedade deslegitima autoridades sem lastro moral, é um instrumento cada vez mais próximo do nosso horizonte político.

As pessoas, afinal, hão de perguntar: as leis que temos de obedecer devem continuar a ser feitas ou referendadas por homens com aquele perfil?

A resposta “não” vai nos levar a desdobramentos que podem fazer nascer um novo País, confirmando a ideia de que crises podem significar também mudança. Toda mudança é bem-vinda ao Brasil preguiçoso em desenvolver cidadania.

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Arrumando a Casa

31 sábado jan 2015

Posted by Helio Santos in Governo Dilma

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Aécio, Dilma, Economia, Política, PSDB, PT

Durante a campanha do ano passado, critiquei os economistas que trabalhavam para Aécio Neves. Eles argumentavam que algumas “maldades” precisariam ser feitas para “arrumar a casa”. Queriam dizer com isso que a economia estava “bagunçada”: Gastos fora de controle, déficit público avantajado, baixo crescimento industrial etc. Na época argumentei em uma entrevista dada para a AFROPRESS afirmando que eles queriam na verdade arrumar a “Casa Grande”, e que nessa arrumação os mais pobres perderiam.

Mas veja o destino: foi precisamente isso que os economistas do Governo Dilma fizeram tão logo tomaram posse! Quando os tecnocratas arrumam a Casa Grande, a Senzala (os mais pobres) é que acaba pagando a parte mais salgada da conta. Aqui no Brasil de carne e osso tem sido sempre assim.

Numa linha contrária da defendida pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que prega taxar os mais ricos para reduzir a carga dos impostos sobre a classe média, aqui se decidiu atacar os direitos trabalhistas: seguro desemprego; abono salarial; auxílio doença e pensões. Nesse mesmo tempo, aumentos generosos foram concedidos aos poderes executivo, legislativo e judiciário, como o auxílio-moradia de 4 mil reais para os juízes! Esse tratamento diferenciado é a suma heresia contra os trabalhadores.

Aqui não se tributam as grandes fortunas e nem as heranças. O patrimonialismo brasileiro é visceral e patológico. Nos Estados Unidos, Obama pretende aumentar o imposto de renda dos que ganham muito. Quer também tributar os grandes bancos, tudo isso para beneficiar os que ganham menos e também para investir em creches e educação. Essa ideia aqui seria impensável, pois os ministros que cuidam da economia do país até o ano passado eram diretores-empregados de grandes bancos. Jamais se verá aqui a elite cortando na própria carne. No Brasil isso vai na contramão da cultura de desenvolvimento herdada dos ibéricos: primeiro os meus; depois os meus de novo….

Ocorre aqui no Brasil, desde sempre, um fenômeno tributário que faz com que os mais pobres acabem pagando mais impostos do que os mais ricos. Estudos recentes mostram que os trabalhadores que recebem até 2 salários mínimos, para cada 100 reais que ganham, pagam 54 reais de impostos. Já aqueles que recebem acima de 30 salários mínimos (cerca de 24 mil reais por mês), pagam para cada 100 que ganham, cerca de 30 reais! Essa perversidade é chamada pelos economistas de Regressividade. Aqui, porteiros, professores e diaristas pagam mais imposto do que um milionário e pelo visto isso não deve mudar tão cedo.

No Brasil, os ortodoxos da economia têm como estratégia cega o corte de gastos, especialmente os sociais, como acabou de ser feito agora. Tudo isso para produzir o superávit primário, que vem a ser a economia feita para poder pagar os juros da dívida aos credores: bancos e investidores. Essa política causa recessão que vem com o seu vilão principal a tiracolo: o desemprego. Não tem dado certo na Europa e vem provocando por lá recessão com o consequente desemprego, redução de aposentadorias e diminuição do crescimento. Tal política, equivale a assar o leitão ateando fogo na casa. Os economistas precisam se ater mais a alguns conceitos da Sociologia, Antropologia e História Social para que comecem a entender que é crucial pensar numa cultura de desenvolvimento que flua para o bem-estar da coletividade. Há muito ainda a dizer sobre isso e voltaremos ao tema.

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