• Autor
  • Biografia
  • Alguns links
  • Livros
  • Contato

Brasil de Carne e Osso

~ Debate sobre direitos civis, igualdade racial, diversidade e outros assuntos urgentes do Brasil real.

Brasil de Carne e Osso

Arquivos de Categoria: Protestos

NÃO VOTAR EM BOLSONARO: PARA OS NEGROS UMA QUESTÃO DE AMOR PRÓPRIO

Destacado

Posted by Helio Santos in eleições, Mulheres Negras, Protestos

≈ Deixe um comentário

A fala do capitão Jair Bolsonaro, candidato do PSL, no programa Roda Viva (TV Cultura em 30/7/2018), CONTRA as políticas afirmativas para negros (apelidadas de cotas pela mídia), foram referendadas em 2012 pelo STF por unanimidade. Todos os estudos – e são vários – confirmam que essa é uma das políticas que mais reduziu a desigualdade brasileira; nosso mal maior. Sou professor há mais de 40 anos e posso afirmar que nossa Universidade Pública melhorou, pois conquistou mais diversidade o que enriquece o ambiente e facilita o desenvolvimento geral. Sei que diversos analfabetos políticos antes de terminarem de ler o texto dirão que é mimimi ou fake. Muitos são cegos de boa-fé, mas não todos. Por isso o link para que se possa ver o programa vai abaixo.

Na ocasião, Bolsonaro insinuou que se estava a “dividir o país entre negros e brancos”. Falou coisas piores como: “o negro não é melhor” e que “não há dívida histórica” e finalmente “passa um sabão” nos negros determinando que estes deveriam estudar. Quanto a dividir o país, o capitão demonstra um brutal desconhecimento (imperdoável para quem quer presidir o Brasil) sobre um sem-número de dados que escancaram essa divisão já posta na sociedade. “O negro não é melhor”; uma verdade. Mas não pode ser também o pior, pois quem vem na condição de escravizado e não na de imigrante já saí em larga desvantagem. Quanto a “dívida histórica” está pontuada ao longo de 354 anos de escravidão. Assusta um ex-oficial do exército ser tão analfabeto em Brasil. Algum tempo antes (3/abril/2017), no Clube Hebraica no Rio, o candidato do PSL se referiu aos quilombolas como se estes fossem animais. Por essa afirmação houve até denúncia de racismo ao STF em que Bolsonaro escapou por um triz.

Duas perguntas preciso fazer e gostaria da atenção de todos, mas em particular dos pretos e pardos (negros):

  1. Com problemas tão graves a serem enfrentados na Educação Brasileira, não lhe parece estranho o foco do capitão em RETIRAR DIREITOS dos negros que o próprio STF assegurou?
  2. Tratar negros dessa forma lhe parece razoável para alguém que pretende ser presidente de um país de MAIORIA NEGRA (54 % segundo o IBGE)?

A primeira coisa que a sociedade brasileira já deveria saber, e em particular a população negra, é que o capitão Bolsonaro é um cão que ladra e morde. Ele e seus seguidores não ameaçam (rosnam) apenas; partem para a ação com destemor. Como exemplo, vejam o absurdo da destruição da placa que homenageia uma mulher negra brutalmente fuzilada no Rio: Marielle Franco.

https://istoe.com.br/candidato-de-bolsonaro-que-destruiu-placa-de-marielle-e-eleito-deputado-no-rio/

Fonte: IstoÉ

Trago para as negras e negros e aos demais grupos étnicos que não compactuam com o RACISMO uma PROPOSTA-CONCEITO: DESVOTAR.

Aqueles que votaram ou que sabem de algum conhecido que votou em Bolsonaro no primeiro turno devem DESVOTAR. Ou seja: mudar o seu voto a favor de um Brasil sem ódios. Para aqueles eleitores negros que forem seus conhecidos, sugiro esclarecê-los com a verdade. Para aqueles que não conseguem votar no PT, apesar do Segundo Turno ser um aglomerado novo de setores e não mais apenas um só partido – peço que anulem seu voto. Nunca fui petista, mas nunca antes exercerei meu direito de voto com mais determinação: votarei no Professor Fernando Haddad, que nesse momento encarna a possibilidade de não mergulharmos num Brasil que será particularmente mais hostil ainda para nós negros.

O que não podemos fazer de maneira alguma é fortalecer o nosso algoz, que a bem da verdade não esconde o seu desprezo por nós – ele e seus seguidores, que já estão se revelando fora do controle. Afinal, a população negra não pode ser confundida com uma imensa esquadrilha de kamicazes. Amamos a vida.

Roda-Viva: https://www.youtube.com/watch?v=lDL59dkeTi0

Compartilhe:

  • Tweet

Curtir isso:

Curtir Carregando...

A ASCENSÃO DOS NEGROS NO BRASIL X O GENOCÍDIO DE JOVENS

Destacado

Posted by Helio Santos in cultura, Equidade Racial, Mulheres Negras, política, Protestos, Questão Racial, racismo, Radicalizar na democracia, Uncategorized, Visibilidade dos Negros

≈ 1 comentário

IMG-20180818-WA0025

Capa Folha de São Paulo publicado em 13/08/2018.

“Quase 500 mil pessoas que se declaram pretas e pardas ascenderam às classes A e B em 2017”. Essa frase de efeito, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo do dia 13/8, abriu matéria de capa em que se estranhava tal crescimento em pleno momento de retração econômica. De fato, à primeira vista, chama a atenção, pois naquele ano cerca de 800 mil pessoas foram rebaixadas de seus estratos em função de uma das piores crises econômicas sofridas pelo Brasil. Mais: o fenômeno foi o único positivo entre todas as classes de renda. Ou seja, esse empoderamento econômico de negros e negras corre na contramão do Brasil de carne e osso, como chamo o país real aqui em nossa página.

Por outro lado, noutra direção, 17 dias antes (28/7) o mesmo jornal trazia outra notícia de capa tão impactante quanto a da ascensão de negras e negros. A Polícia Civil de São Paulo descobriu um plano do PCC – o Primeiro Comando da Capital – para recrutar cerca de 1.000 novos integrantes por mês. A campanha do grupo criminoso atende pelo nome de “adote um irmão”. Considerando a realidade das periferias brasileiras, apinhadas de jovens “Nem – Nem” – aqueles que nem estudam e nem trabalham -, o plano do PCC de recrutar 12 mil novos integrantes por ano pode ser considerado modesto. Segundo o Banco Mundial são cerca de 11 milhões de jovens na faixa etária de 15 a 29 anos e que raramente rompem o gargalo do ensino médio. A meta do PCC – 12 mil recrutas por ano – é cerca de 0,1% do número de “Nem – Nem” estimado pelo Banco.  Desnecessário dizer quem é a maioria desses recrutas, candidatos a morrerem antes de completar 30 anos. São jovens oriundos do que denomino “família de risco” – pobre, negra, periférica e geralmente liderada por uma mulher.

Não se reconhece, mas a ascensão às classes A e B, em larga medida, se deve às políticas afirmativas (Cotas Raciais) tão criticadas num passado recente. Em 1997, o grupo que eu coordenei no Ministério da Justiça, fez o primeiro encontro governamental para discutirmos essas políticas. O encontro ocorreu na cidade de Vitória (ES) e contou com especialistas do IPEA, Itamaraty, Ministério da Justiça e Educação, dentre outros. Diversos cenários foram desenhados: eu sempre defendi que as ações afirmativas trariam essa ascensão e que ocorreria  ao mesmo tempo uma onda de racismo mais visível, menos envergonhado. Precisamente o que se dá hoje na cena brasileira, mais de 20 anos depois. Nesse texto breve não cabe avaliar as variáveis que me fizeram projetar esse cenário antagônico. Aqui, o que me parece mais importante destacar é a ausência de políticas públicas para um grupo vulnerável superior às populações do Paraguai e do Uruguai juntas.

 Novas Políticas Afirmativas

 Hoje, a manutenção mensal de um presidiário está em torno de 2.400 reais. Já a manutenção anual de um jovem estudante do ensino médio é de 2.200 reais. Explicando: o custo de um encarcerado por ano equivale ao valor investido em 13 estudantes do ensino médio onde a tragédia dos “Nem – Nem” ganha corpo. Não se investe na juventude, pois prefere-se encarcerá-la depois. O tráfico oferece “oportunidade” real de trabalho com consequências catastróficas para as famílias de risco.

As políticas para esse colapso das esperanças desses jovens devem focar na criação de uma nova escola que propicie competências contemporâneas, período integral e bolsa em dinheiro para a retenção da juventude empobrecida no ambiente escolar. Simultaneamente, são necessárias políticas de apoio integral às famílias de risco, o que não se confunde com o Programa Bolsa Família.

 #NãoVoteNoInimigo

 Acabei de ver agora (dia 17/8) o debate dos candidatos à presidência pela Rede TV. Ninguém tem uma proposta efetiva para a sangria que ceifa as vidas de 63 jovens negros por dia. Qual partido – qual candidato – tem uma pista segura para reverter esse quadro? No passado recente, muitos foram silenciosos em relação ao furioso ataque sofrido pelas cotas raciais na universidade pública – a mais eficaz política pública para reduzir desigualdades no país. Hoje, enquanto as cotas raciais aproveitam os talentos outrora relegados, na outra ponta os homicídios matam 23 mil por ano.

Quem projeta os programas dos presidenciáveis são economistas. Estes seres sinistros jamais tentaram calcular o custo de oportunidade que o país paga por ceifar talentos; o que deveria ser a sua obrigação. A reversão desse genocídio exige estadistas; não tecnocratas que não pensam o país real. Ao que tudo indica, estamos diante de um deserto cuja aridez teremos que enfrentar.

O voto negro precisa funcionar. Eu chamo de “desvoto” o ato de boicotar os candidatos a postos majoritários que não tenham uma pauta específica para a maioria da população. O momento é de organização desse voto – o mais barato do mercado eleitoral, como reconheceu Jânio Quadros há mais de 50 anos. Não faz sentido empoderar aqueles que uma vez eleitos operam com especial zelo contra os seus direitos.

Compartilhe:

  • Tweet

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Chico Buarque, Agressões e Branquitude

02 sábado jan 2016

Posted by Helio Santos in Protestos, Questão Racial, Uncategorized

≈ 4 Comentários

Tags

André Vargas, ódio, bate-boca, Black Panter, Chico Buarque, corrupção, de Hollanda, Joaquim Barbosa, Olimpíada de 1968, Olimpíadas, Panteras Negras, PSDB, PT

Na semana passada, Chico Buarque foi interpelado por um grupo antipetista ao sair de um restaurante no Leblon, conhecido bairro carioca. O caso ficou famoso por envolver o célebre compositor, reconhecido por sua densa obra e, em especial, por sua atuação política ao longo dos anos. Chico é uma referência dentre aqueles que enfrentaram a ditadura militar no mundo artístico. O YouTube traz um flagrante do bate-boca de Chico com o grupo que manifestamente estava alcoolizado. A causa da agressão ficou nítida: o apoio do poeta-compositor-escritor ao PT! Chamar alguém com o histórico de Chico Buarque – o artista e, sobretudo, o cidadão – de “merda”, revela a olímpica e profusa ignorância política que magnifica a intolerância vivenciada pela sociedade brasileira nos dias atuais.

Ao ser provocado: “petista vá morar em Paris”. Mais: “o PT é bandido”, Chico não perde o humor e tenta argumentar educadamente, mas responde também: “Eu acho que o PSDB é bandido”. Mais tarde se soube: os provocadores não pertencem a partido algum. Seriam “coxinhas” antipetistas. A verdade é que o músico-poeta reagiu no mesmo diapasão de seus estúpidos detratores: generaliza um ponto de vista depreciativo e agressivo a respeito de algo. Tanto o grupo turbinado, quanto o poeta têm todo direito de achar que partidos podem ser “bandido”. Cada vez mais sabe-se, sim, que há bandidos nos partidos, mas é um escândalo generalista imaginar que os dois mais importantes partidos do país mereçam esse adjetivo. Mais prudente, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), entende em recente artigo publicado na Folha de S.Paulo (30/12) que “só o diálogo dos dois principais partidos brasileiros” salva o país das graves dificuldades atuais, reconhecendo que, antes de econômica, a crise é política. É um ponto de vista que pode também ser contestado, mas marca a diferença de posição entre quem tem de governar um estado e quem externaliza seu ponto de vista avulso numa discussão noturna na rua.

O compositor sentiu na sua pele branca o mesmo tipo de covardia exalada dos ataques feitos ao jurista Joaquim Barbosa. Foram ataques com sinais trocados: os sofridos por Chico partiram da playboyzada “coxinha” e os de Joaquim viriam de combatentes da “esquerda”. No caso do ex-presidente do STF o viés racial rolou solto. Nas redes sociais foi taxado de “animal da pior espécie”; “capitão do mato”; “comprado pela direita” e foi ainda identificado com a figura de um macaco.

São situações distintas, mas com alguma semelhança. Joaquim Barbosa, eleitor confesso de Lula e Dilma, ao sair de um bar em Brasília, foi chamado de “corrupto”, ao que – com razão – se espantou: “corrupto, eu?”. Tais agressões, ao que tudo indica, não vieram de tucanos, mas é irresponsável dizer que o PT, enquanto partido, estivesse por trás disto.

A lamentável agressão a Chico Buarque, em grau bastante menor do que os diversos ataques sofridos por Joaquim Barbosa, teve, proporcionalmente, maior reação. Quem estuda a questão racial no Brasil conhece os ganhos imanentes à branquitude.

Além da carta de repúdio ao ex-presidente do STF (com cerca de 300 assinaturas de pessoas da área artística, acadêmica e jurídica), telefonemas com ameaça de morte foram feitos. Mas a ofensa máxima se deu no início do ano legislativo do Congresso Nacional em 2014: num ato formal, o então vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT), com os punhos cerrados, hostilizou o então presidente do STF, Joaquim Barbosa – o absoluto constrangimento do ministro pode ser percebido na foto a seguir.

ANDRÉ VARGAS E JOAQUIM BARBOSA

ANDRE-VARGAS-JOAQUIM-BARBOSA-2014-824.jpg-1-original

Andre Vargas e Joaquim Barboda – Agência Câmara

Esta agressão tem um componente perverso, pois o gesto com os punhos cerrados se origina dos ativistas Panteras Negras que combateram o apartheid no Estados Unidos. Nas Olimpíadas de 1968 na cidade do México, os atletas negros daquele País usaram-no para denunciar ao mundo o racismo existente na sociedade americana. Nas entregas das medalhas ganhas por um grande número de afro-americanos, ao som do hino dos Estados Unidos, atletas no pódio cerravam o punho com o braço erguido, popularizando para o mundo o símbolo do poder negro (“Black Power”).

OLYMPICS BLACK POWER SALUTE

John Carlos, Tommie Smith e Peter Norman (direita para esquerda) – Divulgação 

Trata-se de uma heresia que só o supremacismo da branquitude brasileira ousaria fazer: um parlamentar branco utilizando um símbolo, reconhecidamente da luta antirracista, contra um afro-brasileiro. Pior: contra o presidente do STF em um ato oficial da República!

O que eu gostaria de socializar com os meus amigos-leitores nesse derradeiro texto de 2015 é o seguinte: Observo que nos últimos tempos, no Brasil de carne e osso, Xangô parece ter adquirido a dinâmica de Exu. Não posso cometer nenhuma heresia pois não sou conhecedor do assunto, mas, confesso, este é um insight muito forte em minha alma.

Exemplifico o porquê dessa intuição: 2 meses depois da ofensa à Joaquim Barbosa, o poderoso Vargas inicia seu calvário; em abril de 2014 se desliga do PT para não ser expulso; em dezembro tem o seu mandato de deputado cassado pelos seus pares na Câmara; em abril de 2015 é preso. Foi o primeiro – sim o primeiro – condenado na operação Lava Jato em setembro último. Além de multa de mais 600 mil reais pegou 14 anos de prisão pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. O mais emblemático dessa história recente: o juiz que condenou o ex-deputado fez questão de assinalar na sentença que na mesma época em que este ofendia o presidente do STF, recebia propinas… Barbosa deu uma volta por cima inteira em seu detrator. Tudo isso se deu muito rápido; menos de 2 anos!

Em dezembro último, finalmente, um político graúdo do PSDB também foi pego, o ex-deputado e governador de Minas, Eduardo Azeredo. Em 2014, como Vargas (PT), renunciou ao mandado de deputado para não ser cassado. Em meados de dezembro último foi condenado em primeira instância a 20 anos e 10 meses por 7 crimes, incluindo peculato (devio de recursos públicos para campanha polítca). Cabe recurso ainda. Aqui, o processo foi bastante lento, fazendo-se justiça só 17 anos depois…

Nota-se na terra-brasilis grupos políticos se defrontando num Fla-Flu que prima pela irracionalidade, em vez de produzirem um embate ideológico, o que seria saudável para a nossa crua democracia, acaba-se tendo um ambiente tóxico para ela. Não se coloca o dedo na ferida – nossa estúpida injustiça -, pois o que deleita os contendores é a superficialidade vadia de sempre.

Compartilhe:

  • Tweet

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Ampliando a Agenda

06 segunda-feira abr 2015

Posted by Helio Santos in Protestos

≈ 1 comentário

Tags

Protestos, sonegação de impostos

Estão marcados para o próximo dia 12 (domingo que vem) novos protestos e, ao que tudo indica, a agenda continua a mesma: contra a corrupção, contra a estagnação econômica e tendo a presidenta Dilma Rousseff no centro das insatisfações.

Vou propor aqui hoje que ampliemos essa agenda, tanto no conteúdo dos temas quanto na profundidade do que já vem sendo posto. Quanto à insatisfação, é um direito de todas e todos manifestá-la livremente.

A corrupção precisa ser vista em toda a sua largueza. Não se trata apenas de empreiteiras que pagam propinas para vender obras superfaturadas A maior parte do roubo diz respeito à sonegação de impostos; utilizando muitas vezes da remessa ilegal de dinheiro para paraísos fiscais – os brasileiros endinheirados têm verdadeira paixão por esse tipo de falcatrua. A operação Zelotes da Polícia Federal começa a iluminar um túnel quase sem fim: mais uma vez, grandes empresas causando prejuízo ao tesouro nacional; desta vez mais de 6 bilhões de reais – isso significa 3 vezes o valor das perdas da Operação Lava Jato que investiga a Petrobrás!

favela

Um pai de família, morador da periferia brasileira, paga impostos em quase todos os bens e serviços que consome: no alimento que compra, sempre buscando as ofertas mais baratas, no material escolar para seus filhos que paga às duras penas em virtude do alto preço, na conta de luz e nos remédios que adquire para a sua mãe; já com a saúde combalida. Em todos esses itens os impostos já estão incluídos nos preços. Este nosso pai de família não tem como sonegar mesmo se quisesse. A sonegação, leitora e leitor, ocorre no momento em que esses impostos deveriam ser recolhidos pelas empresas aos cofres públicos; “recolhidos” porque já foram devidamente pagos por quem comprou bens ou serviços, produzidos ou revendidos por essas mesmas organizações. A união, os estados e os municípios não recebem o bolo tributário que seria rateado entre as três esferas da federação. Resultado: o nosso contribuinte forçado e sua família empobrecem ainda mais. O roubo a que me referi atinge precipuamente a esse tipo de “gente diferenciada”. A escola infantil da filha mais nova daquele brasileiro humilde não virá, assim como não veio para os seus irmãos já adolescentes. A educação infantil para aquela criança continuará apenas como um direito “plasmado na constituição” – como diriam advogados ladinos, sempre prontos a livrar a cara de ladrões contumazes, que assaltam o país impunemente desde sempre. A Procuradoria da Fazenda até criou uma ferramenta para medir a sonegação fiscal: o “Sonegômetro”. Acredita-se que em 2014 cerca de 500 bilhões de reais deixaram de ser recolhidos aos cofres públicos. Leitora/leitor, você tem uma ideia do se poderia fazer com essa dinheirama toda, se esses recursos fossem investidos adequadamente na educação destinada aos filhos dos pais de famílias, que pagam todos seus impostos indiretamente em quase tudo aquilo que consomem?

Parte dessa resposta vamos comentar no artigo do meio da semana.

A agenda do dia 12 precisa “segurar” esse pleito: “Pelo fim da sonegação endêmica”; “Por uma educação fundamental pública de excelência”; “Pelo fim do roubo aos mais pobres”.

Nessa direção, sugiro inserir nessa agenda a igualdade de oportunidades em todas os setores em que a vida flui: na educação, no atendimento à saúde (o que deverá incluir serviços odontológicos), no mercado de trabalho, na mídia e em todos os espaços em que a cidadania se manifesta. Essa “igualdade” aventada aqui – é claro – trabalha com a ideia de equidade. Não devemos nos esquecer: nada mais desigual do que tratar a todos igualmente. Nessa nova perspectiva dos protestos, a agenda do dia 12 deve “segurar” também mais esse pleito: “Pela igualdade de oportunidades para negros e mulheres”; “Por um Brasil que valorize as diferenças”; “Pelos direitos da empregada doméstica”; “Pela criminalização da homofobia”; e por esse caminho pode-se pensar em outros subtemas preciosos. Se as manifestações não abraçarem de bom grado esse alargamento da agenda, que vai na direção da real integração do gigante Brasil, ficará escancarado o seu justo tamanho. Não adianta simular um discurso moderno, mas distante da modernidade. Se isto de fato ocorrer, vai ficar muito parecido com o discurso dos bispos fundamentalistas e ladrões que se animam falando do Cristo de papel da bíblia, mas que borram de medo toda vez que se deparam com a ação do Cristo, que é amor e solidariedade sem limites.

Se organizem em suas cidades para se manifestar, lembrando que “ampliar a agenda” é buscar uma mudança nos costumes do nosso país – uma revolução cultural pela cidadania de todos de fato e não um fantoche de ressentidos sem lastro com o Brasil real. No outro artigo do meio da semana (dia 9), vamos apresentar mais tópicos para a agenda inclusiva do dia 12. Sugestões são bem vindas. Até lá.

Compartilhe:

  • Tweet

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Brasil: País Doente

16 segunda-feira mar 2015

Posted by Helio Santos in Protestos

≈ 1 comentário

Tags

Dilma, Protestos

Hoje, dia 16 de março de 2015, mais do que nunca, vou insistir numa tese que defendo já há algum tempo. Reporto-me aos últimos 20 anos, quando um grupo ainda restrito de ativistas colocou na agenda as ações afirmativas para negros – o que acabou sendo apelidado de “cotas”.

O que se vomitou de baixaria contra essa política foi um repertório escandaloso de violência, covardia e injustiça. Reforçou-se ali para mim uma outra tese; a do “crime perfeito”. Os novelistas insistem que não existe crime perfeito porque não conhecem o Brasil. Isto acontece quando alguém de vítima é alçado à condição de réu. Ora, num crime onde vítima e réu se confundem tem-se o “crime perfeito”. Obra prima que só um país especialmente doente é capaz de criar. Os negros, após serem escravizados por 350 anos, acabaram sendo responsabilizados pela sua própria condição subalternizada e pobreza generalizada.

manif05

Entretanto, a tese que me refiro aqui não é a do “crime perfeito”. O que eu estou convencido desde aquela época se revelou ontem com todas as letras nas manifestações anti-Dilma país afora.

Entendo tratar-se do seguinte: qualquer estudioso dedicado que desejar decifrar o Brasil não poderá abrir mão de utilizar uma abordagem de cunho patológico. O sociológico simplesmente não dá conta! Sem isso não dá para entender o país. Nossa história social, nossa cultura de desenvolvimento e nossa peculiar forma de demonizar o outro em razão de nossas próprias frustrações têm de ser considerados de forma mais aguda. Somos um país tropical, escravista, machista e preconceituoso. Profundamente injusto. Não dá mais ouvir falar mal do bolsa família num país da super-bolsa milionária dos rentistas. Perto do que o Brasil paga de juros aos mais ricos, o programa bolsa família, que atende a milhões de famílias, é muito pouco.

Nas manifestações anti-Dilma revelou-se uma sinceridade boa. As pessoas soltaram os seus demônios sem medos.

manif02

Não me refiro só ao soco inglês e outras armas apreendidas dos skinheads, nem só aos palavrões obscenos estampados em camisas. Também não se trata apenas das palavras de ordem de quem não tem uma agenda propositiva, mas apenas quer agredir.

Claro, houve quem fez o que se deve fazer em uma manifestação: reivindicar, protestar e criticar. Faz parte do jogo democrático.

manif08

O que se vomitou de lixo por parte de pessoas que se enrolavam na bandeira do Brasil assustou a algumas pessoas desconhecedoras das lutas mais duras, como a das mulheres, dos negros e do público LGBT, a título de exemplo.

Pedir a volta da ditadura, apoiar o feminicídio são alguns exemplos.

manif06

É mentira dizer que o PT é o responsável pela agenda dos públicos citados acima. Quem se colocou na frente dela foram os movimentos sociais. Alguns partidos absorveram mais ou menos as reivindicações daqueles setores.

Considerando o baixo nível de parte importante das manifestações de domingo (15/3), o efeito anti-Dilma teve efeito contrário. Quem gostaria de ter o apoio de quem pede de volta a ditadura militar? Nesse domingo, o Brasil se revelou um pouco mais para quem não sabia muito da verdadeira alma nacional. No campo psicológico é fundamental assumir os problemas para poder pensar em cura.manif03

Compartilhe:

  • Tweet

Curtir isso:

Curtir Carregando...

DILMA VANA ROUSSEFF

14 sábado mar 2015

Posted by Helio Santos in Governo Dilma, Protestos

≈ 3 Comentários

Tags

Dilma, dilma rousseff, impeachment, Protestos, temer

dilmarousseffv2

Nesse texto, mais do que em outros, pretendo me posicionar na primeira pessoa em virtude de se tratar de uma crônica sobre a presidenta da república num momento delicado da vida do país. Nessas ocasiões, quem tem opinião deve manifestá-la sem temer a possibilidade de desagradar a alguns – risco próprio de quem socializa suas ideias.

Sem dúvida que há uma frustração generalizada em diversos segmentos em virtude da opção escolhida pelo governo Dilma para combater a crise econômica – em especial o baixo crescimento econômico. A ortodoxia econômica que vem sendo adotada, em linguagem explicativa, equivale a assar um leitão, mas queimando toda a casa junto. A ortodoxia traz esse veneno em sua terapia: para cumprir suas metas provoca recessão, desemprego, perdas trabalhistas e sofrimentos; em especial aos mais necessitados. Esse tipo de política, presentemente, está sendo duramente questionado na Europa: Grécia, Espanha e Portugal que o digam.

Todavia, grande parte dos que clamam contra Dilma, contraditoriamente, não é contra as práticas da ortodoxia econômica, como o grupo MBL (Movimento Brasil Livre) de perfil neoliberal. Não se trata de uma contradição qualquer. Mais: ela traz em seu bojo outras nuances. O remédio que vem sendo aplicado é o que a presidente, enquanto candidata, jurara não aplicar. Agora, alguns dos defensores daquelas ideias se posicionam contra Dilma! Por certo na carona dos descontentes com as políticas de cunho ortodoxo que o partido da presidenta – o PT – jura não ser defensor. Há contradições aí para todos os gostos. A verdade, porém, é que Joaquim Levy, o todo poderoso ministro da fazenda (ex-diretor do Bradesco), opera com liberdade as políticas que o PT desconjura.

Contra a ortodoxia econômica há a alternativa heterodoxa em que os remédios se alternam de forma a fazer os ajustes econômicos sem perder de vista o fim último da economia que é beneficiar a vida das pessoas e não, como num processo orgástico, dar satisfação a tecnocratas que operam com metas obsessivas sem lastro com a realidade social, histórica e econômica dos países.

Entretanto, o que nos importa aqui são os atos anti-Dilma que se multiplicarão país afora no dia 15.

Fascistas de Jeans

Dois jovens do Movimento Brasil Livre (MBL), um de 19 e outro de 31 anos, em artigo recente publicado na Folha de São Paulo (9/3), conseguiram a façanha de escrever uma peça em que a palavra justiça ou injustiça não foi usada uma vez sequer. Falam em homicídios em série, mas não lamentam e nem reconhecem que os mortos são jovens como eles e em sua grande maioria negros. O motor que sempre moveu a energia dos mais jovens ao longo da história foram as injustiças, as carências dos mais necessitados, a liberdade, o amor etc. Intriga-me ler um discurso de dois jovens que fala na alta carga tributária do país, mas não reclama das políticas inadequadas implementadas com os recursos da arrecadação. Agridem Dilma chamando-a de “gerentona” em um país em que a gestão é ruinosamente machista – apenas 6% dos membros dos conselhos de administração são compostos por mulheres. Essa baixa participação se dá num país onde as mulheres têm melhor escolaridade do que os homens; como atestam todos os estudos feitos nesse campo! Todos e todas têm o sagrado direito de protestar e se posicionar como quiserem, como esses jovens. Por esse direito a minha geração enfrentou a ditadura militar, quando alguns foram mortos. Entretanto, soa muito estranho para mim quando um jovem de apenas 19 anos, que vive num dos países mais desiguais do planeta, reclama do tamanho do estado e não diz nada sobre sonhos. Sonhar, por exemplo, em propiciar escola infantil de qualidade para todas as crianças.

O Brasil de carne e osso parece ser algo distante para esses jovens e pelo visto não vão dar conta de decifrar o Brasilzão, podendo, como muitos outros, desistir; acabando por pousar em Miami. Para esses brasileiros desistentes tenho dito: já vão tarde. De fato são desnecessários.

Temer o Temer

O professor Bresser-Pereira (FGV-SP) em entrevista recente se referiu a um suposto ódio dos ricos ao PT. Esse fenômeno ocorre mas não explica a fúria anti-Dilma. Por outro lado, petistas também detestavam FHC e seu governo e clamaram com o “Fora FHC”. Depois, não se deve esquecer: os mais ricos – os banqueiros – nunca ganharam tanto dinheiro como nos governos do PT. As raivas são difusas como a que alguns corintianos sonham espancar palmeirenses e vive-versa.

O que eu sempre notei, já no primeiro mandato, é que o mundo empresarial, determinantemente masculino, nutre uma birra ideológica, não contra o governo em si, mas contra a figura forte da ex-ativista Dilma Vana Rousseff. É como eles se vingam: “a economia é capitalista e nós não investimos”. De repente tem-se um fastio empreendedor de forma que se trava o crescimento do PIB. Empresários fazem assim porque podem fazer. Não é por outro motivo que um economista com o perfil de Levy dá as cartas no Ministério da Fazenda. Ele não é um estranho no ninho apenas, mas também o preço (muito alto) a ser pago a um mercado que “peita” uma mulher cuja personalidade é reconhecidamente forte. “Guerrilheira”, como alguns a rotulam. Um senador já avisou: quer vê-la “sangrar”!

Isso não significa que acertos sejam de fato necessários para a economia deslanchar. Sabe-se que nem tudo está a mil maravilhas no governo, mas daí clamar-se por impeachment é deslavado exagero. O segundo mandato está apenas começando e Dilma tem quase 4 anos para ajustar e avançar com pleno êxito.

Confundir Dilma Rousseff com Renan Calheiros e Eduardo Cunha, como vi em diversas falas e artigos, é grosseria e desconhecimento. Os parlamentares citados são do PMDB, partido de Michel Temer, vice-presidente da república e que substituiria Dilma num eventual impeachment…

O que Dilma tem a seu favor não é de cunho partidário. Sua biografia é quem diz de seu caráter e sobretudo de seu compromisso com a mais legítima causa nacional.

Todos aqueles que têm experiência na luta contra os preconceitos e discriminações decifram sem muita dificuldade a razão dos exageros que alguns sofrem. Numa perspectiva semelhante o mesmo se dá com Barack Obama – presidente negro que também tem “sangrado” na mão dos republicanos racistas nos Estados Unidos. É absolutamente legítimo criticar, protestar e propor mudanças de rumo – são direitos existentes em uma democracia dos quais não quero abrir mão. Todavia, nota-se um plus nos protestos contra a presidenta Dilma Rousseff que é de fundo definitivamente machista e que vem bem mascarado no meio do bolo – introjetado na alma do Brasil profundo. Quem desejar saber quão profundo é; busque conhecer os escabrosos relatórios de violência contra a mulher no País. Observem os adjetivos absurdos “gastos” contra a presidenta em algumas manifestações, como se viu na Copa do Mundo. Homens raramente enfrentam tais xingamentos em igual intensidade. Essas violências já banalizadas contra as mulheres estão impregnadas na cultura do Brasil real e precisam ser revertidas.

Compartilhe:

  • Tweet

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Pesquise aqui:

Arquivo

  • outubro 2018
  • agosto 2018
  • julho 2018
  • maio 2018
  • julho 2017
  • maio 2017
  • abril 2017
  • janeiro 2017
  • dezembro 2016
  • novembro 2016
  • outubro 2016
  • setembro 2016
  • agosto 2016
  • julho 2016
  • junho 2016
  • maio 2016
  • abril 2016
  • março 2016
  • fevereiro 2016
  • janeiro 2016
  • dezembro 2015
  • novembro 2015
  • agosto 2015
  • julho 2015
  • junho 2015
  • maio 2015
  • abril 2015
  • março 2015
  • fevereiro 2015
  • janeiro 2015
  • fevereiro 2014

Núvem de temas

aristocracia boas-vindas boicote Corrupção Cota de 100% para Brancos cotas raciais cultura Edital eleições eleições 2016 Equidade Racial esporte Este blogue eventos Fotos Que Explicam o Brasil Fundo Baobá Futebol Gestão Pública Governo Dilma Governo Interino Homofobia impeachment LGBT Maioridade Penal Mar de Lama meio ambiente meritocracia Michel Temer movimentos sociais Mulheres Negras Negros na TV Brasileira Obrigado O Homem Lésbico Olimpíada Polícia Militar política Protestos Provocações - TV Cultura Publicidade e Propaganda Pérolas do Brasilzão Questão Racial racismo Radicalizar na democracia Reforma Ministerial Rio 2016 Te Dou Um Doce Uncategorized violência Violência Racial Visibilidade dos Negros

Temas:

  • aristocracia
  • boas-vindas
  • boicote
  • Copa
  • Corrupção
  • Cota de 100% para Brancos
  • cotas raciais
  • cultura
  • Edital
  • eleições
  • eleições 2016
  • Equidade Racial
  • esporte
  • Este blogue
  • eventos
  • Fotos Que Explicam o Brasil
  • Fundo Baobá
  • Futebol
  • Gestão Pública
  • Governo Dilma
  • Governo Interino
  • Homofobia
  • impeachment
  • lavajato
  • LGBT
  • Maioridade Penal
  • Mar de Lama
  • meio ambiente
  • meritocracia
  • Michel Temer
  • movimentos sociais
  • Mulheres Negras
  • Negros na TV Brasileira
  • O Homem Lésbico
  • Obrigado
  • Olimpíada
  • Pérolas do Brasilzão
  • Polícia Militar
  • política
  • Previdência
  • Protestos
  • Provocações – TV Cultura
  • Publicidade e Propaganda
  • Questão Racial
  • racismo
  • Radicalizar na democracia
  • Reforma Ministerial
  • Rio 2016
  • Te Dou Um Doce
  • Uncategorized
  • USP
  • vestibular
  • violência
  • Violência Racial
  • Visibilidade dos Negros

Curta nossa página no Facebook:

Curta nossa página no Facebook:

Blog no WordPress.com.

Cancelar

 
Carregando comentários...
Comentário
    ×
    Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
    Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies
    %d blogueiros gostam disto: