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Brasil de Carne e Osso

~ Debate sobre direitos civis, igualdade racial, diversidade e outros assuntos urgentes do Brasil real.

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Arquivos de Categoria: política

A ASCENSÃO DOS NEGROS NO BRASIL X O GENOCÍDIO DE JOVENS

Destacado

Posted by Helio Santos in cultura, Equidade Racial, Mulheres Negras, política, Protestos, Questão Racial, racismo, Radicalizar na democracia, Uncategorized, Visibilidade dos Negros

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Capa Folha de São Paulo publicado em 13/08/2018.

“Quase 500 mil pessoas que se declaram pretas e pardas ascenderam às classes A e B em 2017”. Essa frase de efeito, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo do dia 13/8, abriu matéria de capa em que se estranhava tal crescimento em pleno momento de retração econômica. De fato, à primeira vista, chama a atenção, pois naquele ano cerca de 800 mil pessoas foram rebaixadas de seus estratos em função de uma das piores crises econômicas sofridas pelo Brasil. Mais: o fenômeno foi o único positivo entre todas as classes de renda. Ou seja, esse empoderamento econômico de negros e negras corre na contramão do Brasil de carne e osso, como chamo o país real aqui em nossa página.

Por outro lado, noutra direção, 17 dias antes (28/7) o mesmo jornal trazia outra notícia de capa tão impactante quanto a da ascensão de negras e negros. A Polícia Civil de São Paulo descobriu um plano do PCC – o Primeiro Comando da Capital – para recrutar cerca de 1.000 novos integrantes por mês. A campanha do grupo criminoso atende pelo nome de “adote um irmão”. Considerando a realidade das periferias brasileiras, apinhadas de jovens “Nem – Nem” – aqueles que nem estudam e nem trabalham -, o plano do PCC de recrutar 12 mil novos integrantes por ano pode ser considerado modesto. Segundo o Banco Mundial são cerca de 11 milhões de jovens na faixa etária de 15 a 29 anos e que raramente rompem o gargalo do ensino médio. A meta do PCC – 12 mil recrutas por ano – é cerca de 0,1% do número de “Nem – Nem” estimado pelo Banco.  Desnecessário dizer quem é a maioria desses recrutas, candidatos a morrerem antes de completar 30 anos. São jovens oriundos do que denomino “família de risco” – pobre, negra, periférica e geralmente liderada por uma mulher.

Não se reconhece, mas a ascensão às classes A e B, em larga medida, se deve às políticas afirmativas (Cotas Raciais) tão criticadas num passado recente. Em 1997, o grupo que eu coordenei no Ministério da Justiça, fez o primeiro encontro governamental para discutirmos essas políticas. O encontro ocorreu na cidade de Vitória (ES) e contou com especialistas do IPEA, Itamaraty, Ministério da Justiça e Educação, dentre outros. Diversos cenários foram desenhados: eu sempre defendi que as ações afirmativas trariam essa ascensão e que ocorreria  ao mesmo tempo uma onda de racismo mais visível, menos envergonhado. Precisamente o que se dá hoje na cena brasileira, mais de 20 anos depois. Nesse texto breve não cabe avaliar as variáveis que me fizeram projetar esse cenário antagônico. Aqui, o que me parece mais importante destacar é a ausência de políticas públicas para um grupo vulnerável superior às populações do Paraguai e do Uruguai juntas.

 Novas Políticas Afirmativas

 Hoje, a manutenção mensal de um presidiário está em torno de 2.400 reais. Já a manutenção anual de um jovem estudante do ensino médio é de 2.200 reais. Explicando: o custo de um encarcerado por ano equivale ao valor investido em 13 estudantes do ensino médio onde a tragédia dos “Nem – Nem” ganha corpo. Não se investe na juventude, pois prefere-se encarcerá-la depois. O tráfico oferece “oportunidade” real de trabalho com consequências catastróficas para as famílias de risco.

As políticas para esse colapso das esperanças desses jovens devem focar na criação de uma nova escola que propicie competências contemporâneas, período integral e bolsa em dinheiro para a retenção da juventude empobrecida no ambiente escolar. Simultaneamente, são necessárias políticas de apoio integral às famílias de risco, o que não se confunde com o Programa Bolsa Família.

 #NãoVoteNoInimigo

 Acabei de ver agora (dia 17/8) o debate dos candidatos à presidência pela Rede TV. Ninguém tem uma proposta efetiva para a sangria que ceifa as vidas de 63 jovens negros por dia. Qual partido – qual candidato – tem uma pista segura para reverter esse quadro? No passado recente, muitos foram silenciosos em relação ao furioso ataque sofrido pelas cotas raciais na universidade pública – a mais eficaz política pública para reduzir desigualdades no país. Hoje, enquanto as cotas raciais aproveitam os talentos outrora relegados, na outra ponta os homicídios matam 23 mil por ano.

Quem projeta os programas dos presidenciáveis são economistas. Estes seres sinistros jamais tentaram calcular o custo de oportunidade que o país paga por ceifar talentos; o que deveria ser a sua obrigação. A reversão desse genocídio exige estadistas; não tecnocratas que não pensam o país real. Ao que tudo indica, estamos diante de um deserto cuja aridez teremos que enfrentar.

O voto negro precisa funcionar. Eu chamo de “desvoto” o ato de boicotar os candidatos a postos majoritários que não tenham uma pauta específica para a maioria da população. O momento é de organização desse voto – o mais barato do mercado eleitoral, como reconheceu Jânio Quadros há mais de 50 anos. Não faz sentido empoderar aqueles que uma vez eleitos operam com especial zelo contra os seus direitos.

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FUNDO PARA A CAMPANHA DAS CANDIDATAS NEGRAS

29 terça-feira maio 2018

Posted by Helio Santos in eleições, Mulheres Negras, política, Questão Racial, racismo, Radicalizar na democracia, Uncategorized, violência, Violência Racial, Visibilidade dos Negros

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Economia, eleições, mulheres negras, Política, racismo

Apesar do baixo-astral reinante na terra-brasilis, entrei em 2018 confiante: creio que pela primeira vez o Brasil irá decifrar a essência de suas desigualdades. Sem isso não é possível pensar num projeto de nação. As desigualdades aqui são infames e, todos sabemos, elas têm procedência histórica, cor e sexo. Mais: as desigualdades de raça e de sexo demarcam o esgoto social a céu aberto que o Brasil sempre foi, mas que, presentemente, tornou-se uma anomia social-moral insustentável.

Finalmente, parece que a “ficha caiu” para todas e todos! Alguns, aglutinados em seus nichos partidários, foram os últimos a ceder aos fatos: estamos por nossa conta e risco na luta para efetivar as mudanças estruturais desse país racista, misógino, homofóbico, classista – uma verdadeira máquina de moer cidadania. Quem entender que se trata de exagero – sempre há quem queira contemporizar -, considere o congelamento por 20 anos dos direitos sociais; a mortandade genocida dos jovens negros; o retorno de doenças que estavam extintas; o crescimento de 500% do encarceramento de mulheres negras. E, finalmente, a execução de Marielle Franco. A execução de Marielle foi um recado direto ao maior segmento da população brasileira: as mulheres negras. Já havia visto em 18 de novembro de 2015 um avant-premier desse filme: a marcha pacífica das mulheres negras foi recebida a tiros em Brasília. Mulher negra empoderada, reivindicando o seu devido espaço na esfera do poder é algo surreal para uma elite anacrônica e, porque não dizer aqui, também perigosa.

Toda essa conversa é para nos introduzir ao título acima: o STF decidiu que, pelo menos, 30% do Fundo de Financiamento de Campanha das próximas eleições deverá ir para as mulheres candidatas. Cerca de 1 bilhão e setecentos milhões de reais serão distribuídos aos partidos. 30% desse valor terá de ir para o custeio das campanhas das mulheres, cerca de 510 milhões de reais.

Fonte:MDB, PT e PSDB terão mais dinheiro do fundo eleitoral; veja divisão

A EDUCAFRO, com o meu absoluto apoio, entende que a metade desse valor destinado às mulheres nos partidos deve vir para o financiamento das candidaturas das mulheres negras. Ou seja: 255 milhões de reais. 51,8% (mais da metade) das mulheres brasileiras são negras.

Sem esse cuidado na repartição dos recursos, sabe-se que uma posição de neutralidade não alcança o objetivo pontificado pela Ministra Rosa Weber do STF que tomou essa decisão tendo como referência o princípio constitucional da IGUALDADE

Evidente que os partidos políticos podem exceder esse limite de 30% fixados pelo STF, considerando que os homens na sociedade brasileira têm mais acesso aos recursos para financiamento de campanha, fruto do tipo de sociedade que aqui se construiu. Apenas 10% da Câmara dos Deputados são de representação feminina – uma das mais baixas do mundo. Se considerarmos as mulheres negras isso beira à uma participação ínfima. Importante lembrar: as mulheres negras são o maior grupo da população brasileira!

Câmara dos deputados

Câmara dos deputados

Para que se tenha uma ideia de valor: o MDB – maior partido – receberá 234 milhões; o que significa cerca de 70 milhões para as mulheres dos quais 35 seriam para as candidatas negras. O PT, segundo maior partido na Câmara, deveria destinar às candidatas negras da legenda pelos menos 32 milhões de reais dos 212 que embolsará. Pela ordem, o PSDB, transferiria para as suas candidatas negras cerca de 28 milhões de reais. Partidos menores como PSB, PC do B, PSOL e PDT, deveriam, respectivamente, distribuir às suas candidatas negras os seguintes valores: 18 milhões; 4 milhões; 3,2 milhões e 9,2 milhões de reais.

Espera-se que ativismo negro independente cobre das lideranças partidárias, quase todas elas exercidas por homens brancos, eventualmente até judicialmente se for o caso, para que a metade dos recursos destinados às mulheres sejam canalizados paras as candidatas negras da legenda.

Por outro lado, nada nos impede que façamos um FUNDO NACIONAL PARA AS CANDIDATURAS NEGRAS, em que pessoas avulsas poderiam doar de cinco a 100 reais, por exemplo. Agora, já pensando num Fundo que alcançasse homens e mulheres negras. Além dos recursos financeiros, que têm barrado, historicamente, a eleição de negras e negros, uma campanha por fundos traria as famílias negras para o centro do debate. Precisamos gritar ao povo negro: SOMOS OS ÚNICOS ELEITORES DO MUNDO QUE ELEGEMOS NOSSOS INIMIGOS. Para reverter todo esse entulho que desgraçará ainda mais a vida de nossas famílias, como o congelamento por 20 anos dos Direitos Sociais, precisamos eleger os nossos. A maioria da população brasileira, que é negra, vem ao longo do tempo empoderando pelo voto aqueles que, uma vez eleitos, destroem   seus direitos – seja pela ação ou omissão dessa elite eleita.

2018 promete, precisamos utilizar caminhos alternativos e inovadores para alcançar o voto negro – sempre desdenhado pelos donos do poder. Blogueirxs, artistas, ativistas, youtubers, agitadorxs culturais, personalidades, poetas e escritorxs precisamos construir com rapidez uma usina disruptiva para eleger uma bancada relevante de negros e, sobretudo, de negras em outubro próximo.

Um Fundo de Campanha relevante para as candidatas negras pode vir a ser o início de uma virada de jogo. Seria mágico em 01 de janeiro de 2019 termos dezenas de mulheres negras tomando posse num congresso machista e racista. O começo de uma profilaxia política em Brasília.

Marielle-Presente

Marielle Franco

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Dilma Vana Rousseff II

01 quinta-feira set 2016

Posted by Helio Santos in impeachment, O Homem Lésbico, política

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Dilma, dilma rousseff, impeachment

Dilma Vana Rousseff II

Divulgação: TV Senado

Dia 29 de agosto, da tribuna do Senado, ao defender o seu mandato conquistado nas urnas, a presidenta Dilma Rousseff – “Guerrilheira”, como é chamada pelos seus algozes -, foi de uma dignidade ímpar, como raramente os homens conseguem ser. Dilma, por 14 horas seguidas, enfrentou um debate em que procurava se defender do indefensável, pois o veredicto já estava posto. Todas as tentativas da presidenta em corrigir os problemas fiscais que afetavam a economia do país, algumas delas contrariando suas próprias convicções, foram rechaçadas uma a uma. Pelo contrário, o tempo todo a claque de Eduardo Cunha armava-lhe como resposta pautas-bombas, que explodiriam as finanças desastradamente. Irresponsabilidade parlamentar em estado puro. Os senadores e senadoras, transformados em juízes, cometeram o crime perfeito. Toda vez que uma vítima é transformada em ré, tem-se o crime perfeito.

Em março do ano passado escrevi, aqui nessas páginas, nosso primeiro texto sobre a saga da presidenta. Naquela ocasião, afirmei que a sua característica mais rica não era de cunho partidário. Disse: “sua biografia é quem diz de seu caráter e sobretudo de seu compromisso com a mais legítima causa nacional”. Acrescento: trata-se de um compromisso que a fauna política nacional raramente apresenta; em sua maioria formada por homens.

A maioria dos analistas não lograram, ou não quiseram, perceber o componente misógino neste longo processo. Todavia, todos aqueles que lutam contra as discriminações sabem decifrar os sinais de irracionalidade próprios de quem hierarquiza as diferenças. Dilma, além da birra ideológica do mundo empresarial, sofreu uma sofisticada rebelião misógina, energia que alimenta o patriarcalismo que é o cerne da política brasileira. Rebelião sofisticada porque sugere uma aparente neutralidade. De fato, para um misógino-esgotador, figura que decifro em meu romance O homem lésbico (Editora Global), as mulheres que detêm um brilho especial – e Dilma é uma persona esfuziante -, são as vítimas preferenciais desse macho, que é um espécime de vampiro que se alimenta, não de sangue, mas da luz que emana daquelas mulheres. O efeito da ação desse tipo de misógino costuma ser devastador, pois ele busca eclipsar a energia que alimenta a força dessa mulher especial.

Dilma enfrentou doença grave e a venceu. Ao vê-la no Senado, por 14 horas seguidas, responder às intermináveis e repetidas acusações num país em que políticos-prefeitos roubam o dinheiro da merenda das crianças pobres, me fez sentir, além de vergonha como brasileiro, uma revolta doída.

Sobre o seu desempenho altivo na trincheira que se tornou o Senado, no dia seguinte, a mídia em uníssono repetiu: “Dilma não disse nada de novo”. Absurda e cretina essa observação! Ora, se as acusações continuaram sendo as mesmas, porque se deveria mudar as respostas….

Na ausência da tipificação de crime de responsabilidade – única forma de afastar quem ocupa a presidência da república -, alega-se por último que o impeachment é “pelo conjunto da obra”. O que essa ideia enseja é que se pode afastar alguém do poder executivo devido ao seu desempenho. No presidencialismo não deve ser assim: governantes que desagradam saem mediante eleições. Não há outra forma de afastar governantes que não cometeram crimes a não ser mediante golpes. Todos os golpistas em todas as partes do mundo não se vêm como tais. Por que aqui deveria ser diferente? Mil-bocas repetem: houve um processo transparente com pleno direito de defesa etc. Alegar o cumprimento da ritualística processual para negar o golpe parlamentar não convence; em especial à mídia e aos governos do mundo. Nosso país se rebaixou – como uma república bananeira do século 21. Somos o país da mentira crônica: tudo o que somos; negamos – de bom e de mau. Não se reconhece o valor da diversidade brasileira, por outro lado não assumimos o machismo, a homofobia, o racismo e o absoluto desdém das elites ao baixo padrão de civilidade que ostentamos secularmente.

A verdade é que tudo foi muito bem urdido por forças diferentes: políticos derrotados, a parte nefasta do mundo corporativo, como a FIESP, o TCU, setores do judiciário, a Mídia e também, é claro, parte importante da população mais abastada que não gosta do PT, que não deve ser eximido aqui dos erros cometidos. Em alguns momentos, Dilma não se viu apoiada integralmente nem pelos de seu partido; o PT. Houve, sobretudo, a sabotagem do PMDB a quem estava entregue a vice-presidência da república e inúmeros ministérios.

O governo Dilma sofreu uma queda semelhante à de um Boeing; em que diversos e reiterados erros tiveram de ser cometidos. Exibir fraqueza num jogo político selvagem como foi o do impeachment não me pareceu positivo. Por exemplo: ter rebaixado ministérios como o da mulher, o da Igualdade Racial e o dos Direitos Humanos. Cortar na própria carne não arrefeceu as bancadas que no congresso não se organizam a partir das siglas partidárias, mas sim da conjunção de interesses: a dos evangélicos, dos ruralistas, a da bala etc. Pelo contrário: tais segmentos se animaram e ficaram mais sectarizados.

O que pude observar é que Dilma, e de certa forma também Lula, tiveram e estão tendo os seus dias de “negro”. Explico-me: o tratamento midiático dado a ambos tem sido muito semelhante à epopeia das cotas raciais, na qual os editoriais truncados desinformavam, deturpando a essência do que se tratava. Tudo de forma sincronizada e sem dar chance à resposta no mesmo tamanho e a tempo. No caso das cotas raciais os algozes das ações afirmativas perderam de 11 a zero no STF – desfecho bem diferente do que se observa agora.

A essência do problema que a sociedade brasileira vai ter de enfrentar não está apenas no afastamento de Dilma Vana Rousseff, mas sobretudo nas ações políticas já em curso. Em nenhum momento do debate político-eleitoral travado nas eleições de 2014 cogitou-se congelar por 20 anos os gastos com saúde e educação. Tais iniciativas têm as impressões digitais dos que urdiram essa trama. Trata-se, pois, de um golpe profundo na cidadania tão fustigada dos brasileiros e brasileiras.

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Congresso Sob Suspeita

10 terça-feira mar 2015

Posted by Helio Santos in política

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congresso, deputados, eduardo cunha, Política, renan calheiros, senadores

CUnha e renan

As duas casas legislativas que compõem o Congresso Nacional – a Câmara dos Deputados e o Senado Federal – são presididas por Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos conhecidos e identificados por polêmicas nada edificantes. Calheiros, por usar avião oficial para fazer implante de cabelo ou ainda por estar envolvido no que foi chamado de renangate em que foi acusado de receber grana de empreiteira para pagar despesas pessoais e de pensão de uma filha. Cunha, por ter sido acusado pelo Tribunal de Contas do Rio de favorecer empreiteira construtora quando dirigiu a Companhia Estadual de Habitação (CEHAB), época em que foi associado à “Turma do Chuvisco” do Governo Anthony Garotinho – pessoal “gente boa”, envolvido numa série de escândalos. Essa turma só faltou fazer chover naquele estado nos anos em que Garotinho governou (1998/2001). Nesta última semana (3/3) aqueles dois dirigentes legislativos tiveram os seus nomes inscritos na lista de pessoas suspeitas por envolvimento no escândalo da Petrobrás, batizado pela Polícia Federal de “Operação Lava jato”.

Os dois parlamentares não estão condenados, mas deverão ser investigados. Ao todo, 47 políticos deverão ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Pena que não teremos a eficácia de Joaquim Barbosa ao analisar essas ações. O que me impactou especialmente foi como ambos reagiram à inclusão de seus nomes na lista dos investigados. Ambos se voltaram contra o governo, pois se entendeu o “dedo do Palácio do Planalto” por trás da investigação!

O deputado Eduardo Cunha, sugeriu que houve comemoração palaciana pela inclusão de seu nome; já o senador Renan Calheiros “partiu pra cima”: (1) atacou o governo; (2) devolveu medidas em que o poder executivo propunha ajuste fiscal e (3) atrasou a aprovação do orçamento de 2015!

Cara leitora e caro leitor: como você reagiria caso fosse acusado, por exemplo, de roubar dinheiro? Sairia atirando, desqualificando os acusadores ou exigindo que provas fossem apresentadas? A sua serenidade revelaria a sua certeza interna de inocência.

A infelicidade do Brasil é ter os dois principais líderes legislativos com os perfis de Renan Calheiros e Eduardo Cunha. O pior: eles foram eleitos pelos seus pares precisamente pelos seus defeitos e não por suas eventuais virtudes. Estão no topo do poder legislativo precisamente porque são como são.

Esse quadro – em que o poder legislativo está nas mãos de gente com o background de Calheiros e Cunha – me faz reforçar a tese de que a Desobediência Civil, mecanismo em que a própria sociedade deslegitima autoridades sem lastro moral, é um instrumento cada vez mais próximo do nosso horizonte político.

As pessoas, afinal, hão de perguntar: as leis que temos de obedecer devem continuar a ser feitas ou referendadas por homens com aquele perfil?

A resposta “não” vai nos levar a desdobramentos que podem fazer nascer um novo País, confirmando a ideia de que crises podem significar também mudança. Toda mudança é bem-vinda ao Brasil preguiçoso em desenvolver cidadania.

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Gandra Martins: Pareceres que parecem, mas não são

09 segunda-feira fev 2015

Posted by Helio Santos in cotas raciais, política

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ações afirmativas, Dilma, impeachment, ives grandra da silva martins, petrobrás

Pareceres jurídicos podem ser esgrimidos a favor ou contra, depende da necessidade do freguês. Pareceristas craques são capazes de estocar pareceres com posições diferentes que podem ser solicitados de acordo com a singularidade do cliente!

Na semana passada, dia 3, no jornal Folha de São Paulo, Ives Gandra da Silva Martins, tributarista e professor emérito da Universidade Mackenzie, “despachou” mais um desse tipo de parecer de ocasião. Nele, ao analisar o escândalo da Petrobrás, chegou à conclusão que Dilma Rousseff pode sofrer impeachment. Para tanto, traz a “hipótese de culpa” como argumento. Ao analisar a Constituição, diz que o raciocínio para a sua decisão foi “exclusivamente jurídico”. Aí é que a porca começa a torcer o rabo…

Nessa seara, conhecemos pessoalmente o emérito professor de longa data. Em meados de 1996, o jornal citado, na mesma página 3, em sua edição de sábado, faz uma pergunta que tem de ser respondida em um artigo: “O preconceito contra minorias deve ser enfrentado com políticas compensatórias (ações afirmativas)?”

Para justificar o seu “não”, Martins argumentou:
“Não me convenço de que as políticas compensatórias para minorias ‘teoricamente’ discriminadas sejam a solução. De início, porque ferem o princípio da isonomia plasmado na Constituição de que todos são iguais perante a lei.”

Para explicar a minha resposta “sim” afirmei:
“Tratar de maneira igual pessoas que são atávica e secularmente diferentes é operar com um sofisma – porque simula um caminho democrático. Portanto, devemos adotar no Brasil algum tipo de política de ação afirmativa – cujo fim é criar uma sociedade democrática substantiva e não teórica.”

Tive a sorte de colidir de frente com a isonomia cega argumentada por Martins. Hoje, desmoralizamos a ideia de que “todos são iguais perante a lei”, num país em que sempre se soube que alguns são mais iguais do que outros…

Em 1996, estávamos no início de um pesado embate sobre as cotas raciais. Argumentos “exclusivamente jurídicos” como os de Gandra não nos derrotou, mas alimentaram uma plateia atrasada que sempre primou por ser a guardiã dos privilégios no país. Mais tarde, os fatos foram se revelando e ficou-se sabendo dos grandes interesses econômicos da rede de ensino privado que patrocinou ações junto ao Supremo Tribunal Federal contra as ações afirmativas.

Em 26 de abril de 2012 – 16 anos depois – a resposta definitiva à questão foi dada pelo STF por unanimidade. O voto do ministro relator, Ricardo Lewandowski, foi preciso: “… não há dúvida, a meu sentir, quanto à constitucionalidade da política de reserva de vagas ou do estabelecimento de cotas nas universidades públicas…”.

A presidente não deve subestimar a turma do atraso que não dá ponto sem nó e que no debate das cotas deu trabalho e criou dificuldades. Entretanto, dado ao histórico dos fatos, pode ficar tranquila quanto à ausência da pertinência de pareceres que parecem, mas não são.

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Novo Congresso: Velhos Problemas

02 segunda-feira fev 2015

Posted by Helio Santos in política

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câmara, congresso, eduardo cunha, renan calheiros, senado

O Congresso recém-empossado é bem pior do que o anterior. Mais conservador e, por isso, menos favorável às mudanças que mais interessam ao Brasil profundo. O fisiologismo que sempre impregnou aquele ambiente terá mais espaço ainda. Chantagens, ameaças e boicotes serão os instrumentos básicos para a obtenção de vantagens pessoais.  Uma forma que me parece adequada de avaliar o Congresso Nacional é analisar detidamente o currículo dos senhores Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes eleitos para a Câmara e Senado. Penso que tal análise por si própria diz muito do que nos aguarda.

Foto de Laycer Tomaz/ Câmara dos Deputados - http://fotospublicas.com/

Foto de Laycer Tomaz/ Câmara dos Deputados – http://fotospublicas.com/

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