Quase todos os dias fica-se sabendo, pelos jornais e revistas, que algum “patriota” de plantão está preocupado com as finanças públicas e por isso clama pelo “enxugamento da máquina”. Na maioria das vezes são pessoas ligadas ao mundo empresarial, muitos se assustam com o número de ministérios – 39 ao todo.
A princípio, todos deveriam evitar gastos desnecessários. Num mundo de escassez, exige-se racionalidade econômica, assim deve-se gastar apenas o que for efetivamente necessário.
Têm-se “máquina pública” federal, estadual e municipal. É razoável que a esfera federal receba mais atenção e seja alvo de mais críticas.
Existem aspectos que são comuns aos setores público e privado, todavia os “produtos” gerados são outros. O cidadão-“cliente” do estado, requer atenção como o cliente da empresa. Ambos merecem e desejam qualidade no atendimento, mas a lógica do setor público é diferente da do setor privado. A empresa tem de dar lucro para os acionistas. Modernamente, entende-se que ela não deva estar focada apenas no lucro. Enquanto numa empresa se evitam gastos, no ministério da saúde sobra de dinheiro pode denotar descaso com o atendimento médico da população mais necessitada. Por outro lado, isso não significa que os gastos do setor público não devam ser controlados – e bem.
É conhecida e ridicularizada pelos cientistas da administração a forma como que os empresários brasileiros lidam com a crise: pedem a folha de pagamento e autorizam um corte linear de 10, 20 ou 30%; de acordo com o tamanho do medo. Demitem os empregados, tranquilamente. Trata-se de burrice e covardia, mas é o que ainda acontece largamente. Ou seja, há um cacoete com a “mão de obra”, que eu prefiro denominar trabalho.
Três séculos e meio de escravidão auxiliam a interpretar essa mania. Entende-se, também, o porquê do entusiasmo do setor privado com a precarização das relações de trabalho trazida pelo PL 4330/04, iniciativa que regulamenta a terceirização.
Empresários, sobretudo os de grande sucesso, não servem de modelo para a gestão pública no Brasil, pois faltam-lhes vocação para o interesse da coletividade. Operam com sucesso sob a óptica do ganho para um restrito grupo (acionistas). Entretanto, não conseguem avaliar a cidadania integral, que envolve não só aspectos materiais, mas também os de cunho subjetivo; como se dá na esfera pública.
Modernizar o Brasil, para o olhar do mercado, se reduz ao corte de ministérios. Ninguém comenta sobre a sonegação de meio trilhão de reais por ano, segundo estimativas do sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional!
A administração federal tem 24 ministérios, 10 secretarias com status de ministério e mais 5 órgãos que também estão nessa posição, como o Banco Central. Há que se pensar – sim – num modelo de gestão adequado (talvez por núcleos de afinidades), face à diversificação das áreas trabalhadas por todos esses órgãos.
Ministérios menores, como o do Turismo, Pesca e Esporte, sob uma gestão eficaz, podem propiciar desenvolvimento com geração substancial de empregos e renda. Já as secretarias que formam a tríade da cidadania no Brasil: de Direitos Humanos, de Políticas para a Mulher e de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, têm juntas um custo bastante baixo frente à importância dos direitos que cuidam. Essas secretarias oxigenam o nosso pesado ambiente no campo da cidadania.
Se há, de fato, o interesse em enxugar a máquina, eu afirmo que a questão não é de economia. Aqui, com justiça, se poderia alegar: é a gestão, estúpido!
Creio que a história de lutas dos movimentos sociais no nosso país não tem uma maior autonomia, até hoje. Uma das principais questões é a nossa história reformista, porem, esta pode ser para além do descaso, nossa principal ferramenta. Quando retornamos na história vemos que a grande maioria não teve por valorização a “família”. Em contra-partida as legalidades foram descritas sem clausulas mobilizadas pelas associações de moradores. Que avalia e cria resoluções para o desenvolvimento da infância em seu arcabouço. Todas as culturas aqui mantidas etnicamente conforme o convite e ou a necessidade de expansão ou sobrevivência desta colonia agora capitalista e de mercados consumidores, trabalhadores e empresariado… A crise se manifesta desde o principio no isolamento dito democrático mais condicionado a coercividade e a criação de fundos, que garantiram uma maior formação capitalista do mercado e a usurpação trabalhista. Compreende-se desta forma a autenticidade de sua abordagem professor Helio Santos. Desta forma precisamos nesta próxima década “Como” falar através de cada individuo o a cultura do “pertencimento” que é um conceito da etnia que através das “Ações Afirmativas” vem captando atores em sua formação pessoal para forma uma consciência coletiva de preservação da memória das lutas regionalizadas em nosso país! Salve, Brasil!
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Pingback: Enxugar a Máquina Pública, Sim; Desidratar a Cidadania, Não; | rodolfoabreu
Priorizar, a partir da família, o humano, a solidariedade e a benevolência como valores imprescindíveis para que a Comunidade Negra alcance o ideal de bem comum é consciência começa a brotar e indispensável para firmarmos como cidadão plenos, enfim, estamos em construção, temos que construir, não há o que reclamar para quem ainda não existe.
Recordo que o Estado Brasileiro em fevereiro de 1996 criou o primeiro grupo de valorização da população negra do Brasil.
Tenho guardado a íntegra do pronunciamento que ainda não aprenderam a qual foi é seguinte:
“… Nós estamos, hoje, dando um passo adiante num propósito que é antigo de muita gente e do governo também. Creio que o professor Hélio Santos colocou a questão na perspectiva correta. Trata-se de um movimento que precisa ter, não diria o apoio, mas uma presença no Estado, mas que vai muito mais além disso, porque é um movimento que diz respeito à cidadania e à cultura.
O problema da valorização da população negra não é um problema burocrático e nem é um problema meramente legal, embora haja aspectos legais na questão. É muito mais que isso. É um problema cultural, é um problema de participação, é um problema de cidadania, é um problema social.
No caso brasileiro, nós temos de valorizar o fato de nós construirmos um sociedade multirracial. Tenho dito isso, seguidamente, nos meus pronunciamentos como presidente da Republica, porque não se trata de valorizar por valorizar. É porque isso é parte constitutiva da nação. A nação brasileira se compõe dessa multiplicidade.
Então quando falo do negro, estou falando do brasileiro, do cidadão, da cidadã brasileira. Como presidente da Republica, tenho a obrigação de ressaltar esse aspecto. Aqui, não se trata de um movimento, de parcialidade. É uma parcialidade que forma um todo. E esse todo é, precisamente, hoje expressivo, porque é múltiplo, porque tem uma enorme variedade de participações raciais e culturais. E nós temos de desenvolver formas civilizadas de convivência, que reconheçam o diverso e entendam que, realmente, o Brasil se distingue porque foi ou virá a ser capaz de fazer com que essa diversidade produza um resultado positivo para o conjunto do país, para o conjunto da nação.
Há um aspecto que eu creio que nós devemos insistir sempre, que faz falta no mundo de hoje, que é o aspecto da tolerância, do respeito à diversidade. Se o mundo de hoje é um mundo que tem um lado preocupante, é o da intolerância. E essa intolerância, geralmente, se apresenta sob uma forma de racismo…”
Os integrantes do Primeiro Grupo de Valorização da População Negra do Brasil perdeu uma das maiores oportunidade de formação nacional tudo porque, surgiu um ministro se não me engano o Padilha e falou que o asfalto e o Pelé era não sei o que, suficiente para o grupo inventar a maior confusão com o ministro no momento que o grupo foi criado para formar a base de um trabalho para partir para valorização e não para representar a comunidade negra.
Sou obrigado a copiar novamente:
“…Na desconstrução da trama da realidade temporal, podemos encontrar a liberdade de uma ação altamente criativa e totalmente lúcida, onde a cultura e a história são utilizadas apenas e tão somente como ferramentas para a nossa expansão. É a possibilidade de se sair do esquema robotizado e finalmente alcançar o começo de tudo, o SER…”
Temos que sair desta de ficar criticando ou mesmo buscando problemas para criticar, sem nada SER em relação ao Exercício da Cidadania, porque se assim continuarmos, não chegaremos a lugar nenhum.
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