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Ao longo dessa semana selecionamos 3 séries de fotografias, cujas análises vão nos auxiliar a entender melhor como o Brasil funciona. Na primeira série de fotos, falou-se do “crime do colarinho branco” no escândalo da Petrobrás. Hoje, vamos abordar o protesto feito no dia 15, o qual prometia ter o seu foco na corrupção, nas práticas políticas viciadas e na gestão inadequada da coisa pública.
ELITE BRANCA
O que chama a atenção, de novo, é uma visão que lembra uma Europa que definitivamente não somos: mais da metade da população brasileira é preta e parda – cerca de 52%. De uma maneira geral, em todo o país esse foi o perfil do público que veio manifestar a sua insatisfação; cujo foco acabou ficando quase exclusivamente na presidenta Dilma Rousseff.
Esse público que vem sendo chamado “elite branca” foi o que compareceu em massa às ruas. Foi assim em diversas cidades, inclusive naquelas de maioria negra!
Quem agride a mulher que preside o país usando expressões chulas, não tem a menor dificuldade em chamar uma pessoa negra de “macaco”; da mesma forma que pode ofender a quem destoe de seu imaginário ideal. Esse personagem pode também ser capaz de agir de maneira preconceituosa na hora de avaliar pessoas para qualquer fim. Isso se dá não por conta de uma maldição minha, mas por uma razão simples: é notório o fato de que muitos se aproveitaram de um momento político – este legítimo numa democracia – para soltar os seus demônios guardados com zelo no armário do inconsciente coletivo impregnado de preconceitos e intolerâncias. Não se sabe ao certo se esse grupo é o que vem sendo chamado “elite branca”. Essa é uma expressão que não foi criada pelo movimento negro, nem por nenhum partido, mas sim por um respeitável político de perfil conservador, o ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo. Aliás, trata-se de um conservador favorável às políticas de cotas para negros – entendo vir daí o inshigt dele. Fala-se muito em elite sem outras considerações, o ex-governador a qualificou.
Há uma pequena classe média negra no Brasil – não me refiro às classes recentemente promovidas no País. Esse grupo também não esteve presente. Creio que a participação mínima de manifestantes negros se deu, sobretudo, pelo fato destes não se sentirem pertencentes ao grupo que majoritariamente foi às ruas protestar. Não que os negros não tenham do que reclamar, mas então a agenda seria bem diferente. Em vez de retorno da ditadura militar, teríamos a mudança da polícia que não deveria mais ser militar, apenas polícia.
Dentre o besteirol que se vem ouvindo, fala-se que o PT dividiu o Brasil! Ledo engano.
O Brasil sempre esteve bem dividido, desde os seus primórdios no século 16, quando o Quilombo de Palmares se instalou aqui. Hoje, temos uma condominização severa e excludente. Somos o país dos condomínios fechados, como vi na África do Sul na cidade de Durban há 14 anos, quando o resíduo do apartheid era ainda bem notório.
Vamos concluir a série (parte 3) comentando a face do poder na terra brasilis.
Parabéns Helio, é preciso meter o dedo na ferida, mas desenhando é muito melhor, pois tem gente que não entende português. Abraço. Bispo.
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Excelente análise, como toda a produção do Professor Helio Santos. Conhecedor dos dois Brasis, externou o que esteve e está presente na sociedade brasileira no que se refere à “elite branca” no atual momento da vida brasileira. Me representa!
Maria Conceição
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sou branco e pobre, morador da pavuna costa barros, bairro do rio de janeiro e fui às manifestações. Peguei um onibus e desci na estacao do metro e mais 1 hora até copacabana. fomos em 3 pessoas, uma parda clara.
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